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Ex-comportada, Meg Ryan volta para chocar

Por Agencia Estado
Atualização:

Logo no começo de In the Cut, Meg Ryan desce ao subsolo de um bar que não possui a melhor clientela de Nova York. Faz uma professora que pesquisa gírias com a colaboração de um aluno afro-americano. Ele está com ela no bar. Fran, a professora, desce ao subsolo e vê esta cena que a perturba. Um homem, de pé, e uma mulher agachada a seus pés. Ele está na penumbra, não pode ser visto muito bem. Na versão européia, que vai passar no Brasil, vê-se o pênis, a boca da mulher e uma tatuagem que será decisiva no desenvolvimento da trama do novo filme de Jane Campion. Há um assassinato e esse homem é o assassino. Quando entra em cena o personagem de Mark Ruffalo, o detetive Malloy, ele possui essa tatuagem e Fran teme que seja o criminoso que mata mulheres em Nova York. Será? In the Cut vai se chamar Em Carne Viva no País. O filme estréia aqui em novembro. Nos EUA, já está no centro de um intenso debate. O criminoso arranca a cabeça de suas vítimas, o que é perfeitamente tolerável para as platéias americanas, acostumadas à violência. O que causa escândalo é o sexo. Além do sexo oral no começo de In the Cut, Meg e Ruffallo ficam nus numa cena íntima e o espectador pode ver tudo de ambos. Na culminação da cena, Ruffallo faz sexo oral em Meg, repetindo a cena famosa entre Jean-Marc Bory e Jeanne Moreau em Os Amantes. O clássico de Louis Malle derrubou tabus em 1958. Derrubou? A polêmica em torno de In the Cut mostra que os tabus permanecem vivos numa cultura puritana como a dos EUA. Meg Ryan chega acompanhada pela produtora Laurie Parker à suíte do Hotel The Mark, na 77th Street, junto ao Central Park, onde se realiza a entrevista. Dado o caráter transgressivo do filme, podia-se esperar que surgisse, na porta, uma Meg Ryan mais segura de si, ou mais sexy. Entra a mesma namoradinha da América de filmes como os que fez com Tom Hanks, sob a direção de Nora Ephron, Sintonia de Amor e Mens@gem para Você. Meg parece tímida ao falar de In the Cut. Emprega a terceira pessoa - como se a figura na tela fosse outra pessoa. E é mesmo. Aquela é a história de Fran, não de Meg. Foi difícil fazer um filme como esse, tão diferente em sua carreira? "Você sabe, já tentei fazer outras coisas na minha carreira. Já simulei um orgasmo (em Harry e Sally), fui uma bêbada (em Quando um Homem Ama uma Mulher), mas agora parece que esse filme marca um novo início de minha carreira. Vamos ser francos. A questão do sexo é tabu nos EUA. Ficar nua, masturbar-se, simular cenas de sexo diante das câmeras, tudo isso mexe muito com as platéias americanas." Por conta disso, mais tarde, em outra entrevista, a diretora Jane Campion vai informar que está sendo difícil colocar anúncios na imprensa e na TV dos EUA. Meg já havia comentado o assunto: "Vai haver curiosidade do público, mas por outro lado vamos enfrentar muita hostilidade, também." Meg não se arrepende de ter ousado, mas também não está muito segura das conseqüências que esse filme terá no desenvolvimento de sua carreira. Ainda não sabe o que vai fazer, em seguida. Uma nova Sintonia de Amor, um novo Surpresas do Coração (French Kiss), de Lawrence Kasdan? "Sinceramente, não sei." Não se sente obrigada a embarcar em outro projeto adulto, a ir mais longe do que já foi. Se recuar e voltar às comédias românticas, também não será em função de sua imagem, para tentar recompor o que foi quebrado em In the Cut. "Fiz esse filme pelo papel e por Jane. Ela possui um imaginário muito forte, que expressa a mulher contemporânea." Mais tarde, a diretora ficará sensibilizada com o que disse dela a atriz. "She´ s so talented, so nice" (Ela é tão talentosa, tão querida). O repórter concorda. Para os padrões brasileiros, Meg, nua, talvez seja magrinha, frágil. Aumenta seu encanto. Não é uma loira voluptuosa. É a garota da porta ao lado abrindo a guarda para que penetremos, como voyeurs, em sua intimidade. O repórter viajou a convite da distribuidora Columbia

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