ESTREIA–Suspense "À Procura" derrapa no tom e na credibilidade

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Por Redação
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Seja lá o que for que tinha em mente ao fazer “À Procura”, o diretor canadense de origem armênia Atom Egoyan passa bem longe daquilo de que foi capaz em seus filmes mais contundentes – seja em “Exótica”, “O Doce Amanhã” e “O Fio da Inocência”. No novo longa, ele volta a um assunto que lhe é caro: um único evento desencadeando uma espiral de infelicidade e culpa nos personagens que estão direta ou indiretamente envolvidos. Como em seu trabalho anterior, “Sem Evidências”, o tema é o desaparecimento de uma criança: Cassandra (Alexia Fast), que é levada da caminhonete de seu pai, Matthew (Ryan Reynolds), enquanto ele a deixa por alguns segundos para comprar uma torta. A cena, em sua recusa a ser explícita, é o que há de melhor no filme, que depois exagera nas justificativas e só falta desenhar para ser mais óbvio. Não há mistério. Tudo se resolve facilmente na tela para que não haja tensão – apenas um grupo de personagens pouco profundos vagando pela paisagem gelada de Ontário. O primeiro suspeito do sequestro é o próprio pai –até sua mulher, Tina (Mireille Enos), desconfia dele. Mas o filme nega esse suspense ao seu público, pois logo se sabe que a criança está presa a um quarto, sob a vigilância de Mika (Kevin Durand). Os anos passam, o crime não é resolvido, e a garota é usada como isca na Internet para atrair a atenção de outras crianças. Entre um chat e outro com elas, a menina observa, pelas câmeras de segurança, sua mãe no hotel onde trabalha como camareira. Nesse caso, desde o começo, estão a detetive Nicole (Rosario Dawson), que é perspicaz e racional e, ao mesmo tempo, delicada, e seu parceiro, Jeffrey (Scott Speedman), seu oposto – ou seja, o clichê do gênero. Ficam anos na investigação, mas nada se resolve. É uma trama banal, de um assunto que já se viu várias vezes e mais bem abordado, escrita pelo próprio diretor e David Fraser, que fica girando em falso, se reiterando porque não tem muito a dizer. Para tentar disfarçar essa fragilidade, Egoyan, lá pela metade do filme, começa a embaralhar o tempo, misturando cenas do presente e do futuro – uma tentativa de sofisticação que o filme não comporta. Com suas excessivas reiterações e explicações, Egoyan parece ter pedido a fé na inteligência do público, na capacidade de fechar lacunas sem as devidas justificativas. Faz seu filme mais fraco, tolo mesmo, cuja exibição em competição no Festival de Cannes, em maio passado, causou uma certa perplexidade. (Por Alysson Oliveira, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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