ESTREIA–Sequência de "Aviões" perde em fôlego e criatividade

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Por Redação
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“Carros” (2006) pode não ser o título mais aclamado da Pixar, mas é, com certeza, um dos mais populares do famoso estúdio de animação que pertence à Disney. O filme arrecadou 461 milhões de dólares e ganhou a sequência “Carros 2”(2011), que, apesar da modesta bilheteria de 191 milhões de dólares nos Estados Unidos, conquistou 560 milhões de dólares pelo mundo e muitas outras cifras, graças às vendas de produtos em merchandising. Não é a toa que um terceiro filme foi anunciado, ainda sem data de estreia prevista, meses atrás. Também não é difícil imaginar as motivações da Disney ao preencher este hiato da agora trilogia original. Assim surgiu “Aviões” (2013), filme derivado de “Carros” que repete a ação dos veículos automotores, só que no céu e sem a mesma inventividade e graça das produções em que se inspirou. E mesmo antes de seu lançamento, sua sequência, “Aviões 2 – Heróis do Fogo ao Resgate” (2014), já estava confirmada. Uma prova do quanto apostaram no potencial que a marca poderia atingir com a franquia. O problema é que já se investiu energia bastante no desenvolvimento da história. O primeiro longa dava a impressão de estar em “piloto automático”, apenas reproduzindo o que havia sido feito pela turma de Relâmpago McQueen em Radiator Springs e o que foi visto antes em várias animações, com a história do monomotor pulverizador de Propwash Junction que deseja ser algo a mais, no caso, um avião de corridas. A nova produção segue as mesmas fórmulas dos outros filmes ao mostrar Dusty Voo Rasante (voz de Dane Cook no original e Fernando Mendonça na versão brasileira), agora impossibilitado de seguir naquilo que sabia fazer de melhor, tentando achar um novo sentido para a sua vida. Como no anterior, o protagonista tem de lidar com suas próprias limitações, embora elas estejam mais presentes na aventura recente, já que o desgaste das corridas prejudicou o avião a ponto de impedi-lo de competir em altas velocidades. Por conta de um incidente que causa enquanto estava tentando lidar com isso, Dusty vê-se obrigado a virar um bombeiro voluntário e ajudar o caminhão de combate a incêndio Mayday (Hal Holbrook) a manter a ordem na pequena cidade. Ele vai então procurar treinamento com o grupo de resgate e combate ao fogo do Parque Nacional Piston Peak, onde tem de provar ao durão helicóptero Blade Ranger (Ed Harris) – repetindo a figura do “rígido mestre” comum nos longas da franquia – que é capaz de tal tarefa. Para isso, deverá ajudá-los a manter o lugar a salvo do fogo e da cobiça do gerente do parque (John Michael Higgins/Guto Nejaim), um luxuoso SUV que prioriza os ganhos do resort instalado no local muito mais do que a natureza abrigada naquele espaço. Além de apresentar um vilão bem fraco, o mediano roteiro de Jeffrey M. Howard, responsável pelo script do primeiro filme, entrega piadas baseadas em trocadilhos com acessórios automotivos e coisas do gênero, que são dignas daquele “tiozão” da família que pergunta “é pavê ou pacomê?”. Enquanto isso, a versão brasileira não só traduz e adapta o texto para a cultura local, como é de costume – aludindo a novelas nacionais, por exemplo –, mas vai mais longe, fazendo referências completamente atuais, citando duas ou três vezes a letra de “Beijinho no Ombro”, de Valesca Popozuda, e a icônica frase de outro grande pensador contemporâneo, Compadre Washington. Junto com esse jeitinho brasileiro, a dublagem de Tatá Werneck como Dipper (Julie Bowen no original), a hidroavião do grupo de resgate que é uma fã de Dusty um pouco obsessiva, deve arrancar risadas da plateia. Com boas sequências de ação, mesmo com um 3D irregular, que funciona em algumas cenas e se mostra desnecessário em outras, o filme acerta em sair da lógica da corrida tão presente na franquia e focar em um ambiente mais restrito. Na homenagem feita aos bombeiros e na exaltação aos parques nacionais – a produção teve o apoio do corpo de bombeiros da Califórnia, Estado norte-americano onde grandes incêndios são comuns, e da direção do famoso parque de Yellowstone –, o longa enaltece o heroísmo advindo do altruísmo frente a desejos mais egocêntricos. E ainda coloca um discurso ecológico de forma instrutiva para as crianças, sem ser didaticamente chato – mesmo que soe um tanto piegas em alguns momentos para os espectadores adultos. Trata-se do primeiro trabalho para o cinema de Roberts “Bobs” Gannaway, diretor de produções Disney para a TV ou home vídeo. Apesar de cumprir a função de entreter as crianças, a falta de uma história mais rica, capaz de fisgar os espectadores das mais diversas faixas etárias, é sentida aqui. Culpa da própria Pixar e dos outros estúdios que correram atrás e também produziram excelentes animações nos últimos anos, acostumando mal o público, não mais tão interessado em tramas bem simples como esta. (Por Nayara Reynaud, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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