Estréia 'Sangue Negro', um dos favoritos ao Oscar

Confira atuação de Daniel Day-Lewis no filme que estréia nos cinemas nesta sexta

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Por Franthiesco Ballerini
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Sangue Negro é um dos grandes favoritos ao Oscar deste ano. Concorre ao prêmio máximo da Academia de Hollywood em oito categorias, assim como Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Coen. Confira ainda as outras estréias da semana: Elizabeth - A Era de Ouro, que traz Cate Blanchett, indicada ao Oscar de melhor atriz; Os Indomáveis; O Som do Coração e Vestida para Casar. Veja também: Trailer de 'Sangue Negro'  Trailer de 'Elizabeth - A Era de Ouro'  Trailer de 'Os Indomáveis'  Trailer de 'O Som do Coração'  Trailer de 'Vestida para Casar'  Day-Lewis É bom George Clooney, Johnny Depp, Viggo Mortensen e Tommy Lee Jones começarem a ensaiar o sorriso amarelo, porque a estatueta de melhor ator promete ser de Daniel Day-Lewis no dia 24. Ou, pelo menos, merece ir para ele. O ator apresenta a melhor performance de sua carreira em Sangue Negro, que entra em cartaz no Brasil nesta sexta-feira, 15, após faturar o Globo de Ouro de melhor ator dramático e chegar ao Oscar com oito indicações. E isso só se compara ao seu trabalho como o escritor, artista e portador de paralisia cerebral Christy Brown, em Meu Pé Esquerdo, no qual levou o Oscar. Com um tema tão atual quanto impactante - a descoberta de jazidas de petróleo -, o longa de Paul Thomas Anderson (Magnólia; Boogie Nights) perturba, angustia, faz refletir, mas também traz uma sensação reconfortante ao se mostrar um filme ao mesmo tempo blockbuster e autoral, algo não muito comum e que, por isso, vale cada centavo do ingresso. Inspirado no romance Oil (1920), de Upton Sinclair, Sangue Negro retrata o boom petrolífero da Califórnia entre o final do século 19 e começo do 20. A seqüência inicial é, de cara, inesquecível. Homenageando o clássico 2001 - Uma Odisséia no Espaço, Anderson mostra um deserto largo num silêncio de 11 minutos, com um homem cavando um buraco, seguido por um acidente e um som eletrônico estridente e perturbador. Alguns anos se passam e Daniel Plainview (Day-Lewis), já dono de algumas jazidas, recebe a visita de Paul Sunday (Paul Dano), um garoto que avisa que, em sua terra, na Califórnia, há petróleo a olho nu, correndo entre os cactos. E assim como os portugueses fascinados pelo ouro que corria aos montes nos rios mineiros do século 18, Plainview não mede esforços para adquirir toda a terra da região. Nem que para isso tenha de prometer escolas, casas, clubes e fartura para um povo rico em petróleo, mas que mal tem acesso à água, uma espécie de Iraque transposto para aquele início de século. Sangue Negro é um filme sobre inveja e ambição, materializadas no recurso natural mais disputado do mundo. Embora só a atuação de Day-Lewis já garanta um ótimo espetáculo, os personagens coadjuvantes são ricamente construídos. Como uma cobra maligna, Paul Dano interpreta também o irmão Eli, evangélico que pretende usar a descoberta para fazer fortuna com a construção de uma igreja e a "catequização" (leia-se alienação) do povo. Eli transforma a história num épico social e religioso, numa caracterização muito bem construída sobre a personalização da loucura e do fanatismo erguidos em nome de Deus. Outro personagem marcante é o filho pequeno de Plainview, com o burocrático nome de H. W. (Dillon Freasier). Sua relação com o pai é bem mais profunda do que o simples carinho familiar - e Anderson explora bem isso ao longo da história. H. W., ao final, parece ser a consciência do pai, especialmente nos olhares que lança sobre as negociatas e fúrias paternas. O menino dá um show numa cena em que o ouro negro jorra da terra, mas logo se transforma em uma chama incontrolável - uma metáfora perfeita do filme. Ao contrário dos trabalhos anteriores do diretor, Sangue Negro é construído com base em uma linearidade narrativa tradicional. Em outras palavras, Anderson percebeu que ser diferente e ousado, neste caso, só estragaria a história. É muito provável que, daqui a alguns anos, Sangue Negro seja visto como um dos grandes filmes que ajudaram a derrubar o mito do sucesso americano a qualquer preço, assim como Greed (1924), do mestre Erich von Stroheim, Cidadão Kane (1941), do outro mestre Orson Welles, e Chinatown (1974), de Roman Polanski. Seria exagero compará-lo a esses clássicos? Só o tempo dirá. Sangue Negro. (There Will Be Blood, EUA, 158 min.) Dir. Paul Thomas Anderson. Com Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Kevin J. O'Connor, Ciarán Hinds, Russell Harvard. Estréia nesta sexta, 15

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