
14 de março de 2013 | 11h24
O nome da famosa escultura de Michelangelo remete, na verdade, a uma dilacerante e profana relação entre mãe e filho, que oculta o mecanismo de uma temível vingança, um dos temas favoritos do possante cinema da Coreia do Sul. O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Vencedor do Leão de prata de melhor diretor em Veneza em 2004, com o sutil e intimista "Casa Vazia", Ki-duk muda radicalmente de tom em "Pietà", ao instalar um clima de tensão e impiedade no retrato de um cobrador a serviço de agiotas, Kang-do (Lee Jung-jin). O jovem é o retrato do mal, ao pressionar endividados que não honraram os pagamentos de empréstimos com juros escorchantes, levando-os a se mutilarem para receberem indenizações, que serão apropriadas pelos credores.
A chegada de uma mulher misteriosa, Mi-sun (Cho Min-soo), dizendo-se mãe do rapaz, rompe o padrão dessa rotina doentia. Kang-do não aceita facilmente a estranha, duvidando do que ela afirma -é mesmo sua mãe que o abandonou no nascimento? Por que voltou agora?
Há um clima de suspeita, que a direção precisa de Kim Ki-duk sustenta em favor de uma história que, nas palavras do diretor na entrevista coletiva em Veneza, procura abraçar a humanidade -sendo este o significado do título que escolheu- e também denunciar o capitalismo extremo, do qual o cobrador do filme é um dos algozes.
O tom de tragédia grega que impregna "Pietà" é mantido por uma sucessão de imagens fortes, envolvendo mutilações, estupro e violência contra animais. Mas é uma violência orgânica para compor este universo perverso do filme.
Com este novo trabalho de impacto, o diretor sul-coreano parece estar fazendo o caminho de volta, superando uma depressão que o levou ao afastamento do cinema por três anos, um processo que ele relatou no autodocumentário "Arirang" (2011), inédito no circuito comercial brasileiro.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.