PUBLICIDADE

ESTREIA-'O Porto' traz fábula humanista sobre a imigração ilegal

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Primeiro filme falado em francês do premiado diretor finlandês Aki Kaurismaki, "O Porto", que estreia em São Paulo e no Rio, é uma espécie de manual de seu estilo econômico e sutil, bem como uma esperta coleção de homenagens e detalhes para elaborar uma fábula humanista sobre a imigração ilegal. O filme venceu o prêmio da Fipresci, Federação Internacional dos Críticos, no Festival de Cannes 2011. Também filmado na França, "O Porto" ambienta-se na localidade portuária de Le Havre, zona de desembarque de imigrantes e circulação de mercadorias. É o habitat do escritor frustrado e esforçado engraxate Marcel Marx (André Wilms). Apesar de entrado na meia-idade, com sua escova e graxa ele consegue seu sustento e o de sua mulher, Arletty (a atriz habitual dos filmes de Kaurismaki, Kati Outinen). Todas as noites, Marcel volta para sua pequena casa, numa vizinhança modesta e solidária, onde tem amigos nos comerciantes locais, o quitandeiro, a padeira e a dona do café-bar. Ali mantém uma rotina simples, ao lado da mulher e da cadelinha Laika, uma homenagem à cachorrinha soviética, única tripulante do pioneiro satélite Sputnik I, em 1957. Outras homenagens dedicam-se à França -Arletty (1898-1992) era a inesquecível atriz de clássicos como "O Boulevard do Crime" (1945) de Marcel Carné; e o célebre pintor Monet, ironicamente, empresta seu nome a um rigoroso inspetor de polícia (Jean-Pierre Darroussin). Cuidadoso vigilante do porto contra a invasão recente de imigrantes clandestinos, o inspetor Monet fica de olho em Marcel por causa de um menino africano, Idrissa (Blondin Miguel). Depois de viajar por horas escondido num contêiner que veio do Gabão, Idrissa perdeu-se do resto de sua família, que se dirigia a Londres. Se for pego pelo inspetor, será deportado. Mas Marcel o encontra antes. A opção de ajudar Idrissa acarreta alguns riscos para o próprio Marcel, já que um vizinho intolerante (Jean-Pierre Léaud, "O Pornógrafo") insiste em denunciá-lo. A partir dessa divisão e da solidariedade encontrada por Marcel junto a outros vizinhos, revela-se a real intenção da história, discutindo as posturas éticas diante de problemas sociais, como essa imigração ilegal que hoje desafia a Europa em crise econômica. Tanto como "O Artista", de Michel Hazanavicius, que, como "O Porto", competiu pela Palma de Ouro em Cannes em 2011, o filme de Kaurismaki volta-se para o passado, inspirando-se num mundo e num cinema que quase todos imaginavam perdidos. E que, no entanto, ressurgem com uma vitalidade impressionante neste pequeno conto no qual, recorrendo a um humor à la Buster Keaton, o diretor finlandês realiza um ou dois milagres. Em tempo: o sobrenome do protagonista, Marx, tanto pode homenagear o pai do comunismo, Karl Marx, quanto o humorista Groucho Marx. Na história, cabem referências tanto a um quanto a outro, uma mistura que só Kaurismaki consegue fazer sem sobressaltos e com rara delicadeza. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.