ESTREIA-'O Homem do Futuro' combina ficção e comédia em romance

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Por Redação
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Wagner Moura se tornou conhecido nos últimos anos por interpretar tipos fortes, como o Capitão Nascimento, que transcendeu o cinema e hoje é um ícone da cultura pop brasileira. Embora o ator tenha flertado com a comédia, dando toques cômicos a seus personagens, até agora nunca havia feito uma comédia pura, como é o caso de "O Homem do Futuro". No filme, escrito e dirigido por Claudio Torres ("A Mulher Invisível", "Redentor"), Wagner é Zero, um cientista um tanto infeliz, um tanto amargurado, que, após anos de solidão, por acaso volta ao passado, a um momento crucial de sua vida que o consumiu por duas décadas, quando foi humilhado por seu grande amor, numa festa da escola. A trama é uma fantasia que deve ter cruzado a cabeça de qualquer pessoa: o que fazer com a chance de voltar ao passado para mudar a sua vida? Torres assumidamente busca inspiração em clássicos do escapismo, como os filmes da série "De Volta Para o Futuro" e o romance "A Máquina do Tempo", de H. G. Wells, ou o conto "O Som do Trovão", do americano Ray Bradbury. A tudo isso ele dá um colorido que, se não é novo, ao menos mostra um frescor -- especialmente pela interpretação para lá de inspirada de Wagner, que também canta três canções da trilha. A possibilidade é exatamente de mudar seu destino e não levar um fora de sua garota, Helena (Alinne Moraes, que está na novela "O Astro"). Porém, como mandam as regras da ciência no cinema, uma ação causa uma reação, e a mudança no passado, por menor que seja, transforma todo o futuro. Quando reencontramos o protagonista no futuro (o presente atual) a vida dele não é lá como ele pensou que seria se casasse com Helena. As idas e vindas no tempo permitem a Wagner e seus outros colegas de elenco -- que incluem Gabriel Braga Nunes (num vilão bem menos perigoso que seu Léo, de "Insensato Coração"), Maria Luisa Mendonça, como uma empresária, e Fernando Ceylão, o único amigo de Zero -- criar três versões de um mesmo personagem. Alguns expectadores mais afoitos podem até buscar alguma espécie de leitura psicanalítica dessa multiplicação dos personagens, mas isso não é necessário, porque a chave do filme está mesmo na comédia, no caminho que a trama toma a cada mudança de tempo. Em "O homem do futuro", Torres deixa de lado o cinismo de sua estreia em longa, "Redentor" (2004), no qual fazia uma crítica ácida à sociedade brasileira contemporânea, e está mais próximo da comédia e do romance, como em seu trabalho anterior, "A Mulher Invisível" (2009). A trama aqui funciona muito bem, especialmente por conta de Wagner, que é capaz de criar três versões muito distintas do mesmo Zero. Entre Helena e Zero há uma falta de sincronia amorosa, e nisso, todo o filme pode ser visto como uma grande metáfora para o que querem as mulheres e os homens. Os dois personagens nunca estão em sintonia. Quando ele quer ficar com ela -- na primeira versão, aquela oficial da história -- ela aceita uma proposta para ser modelo, e quando ele volta no tempo a resolução é outra, e depois outra. No fundo, o filme parece dizer que estaremos sempre descontentes com algumas coisas e contentes com outras. Nesse caso, a única coisa a se fazer é deixar a vida seguir seu curso natural. (Alysson Oliveira, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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