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ESTREIA-'Morro dos Prazeres' retrata comunidade carioca com presença de UPP

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Por Redação
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As relações entre a sociedade e a lei são o tema de uma trilogia recente da documentarista Maria Augusta Ramos. Ao lado de "Justiça" (2004) e "Juízo" (2007), "Morro dos Prazeres" forma um painel que investiga a relação entre a sociedade civil e os agentes da lei. Nos dois primeiros filmes, com a ação confinada a tribunais, ela fazia um retrato da última instância. Aqui, a documentarista leva sua câmera para o Morro dos Prazeres, comunidade no Rio de Janeiro, e observa seu cotidiano um ano depois da instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O longa ganhou três prêmios no Festival de Brasília, em setembro passado: melhor direção (Maria Augusta Ramos), melhor fotografia (Leo Bittencourt e Gui Gonçalves) e melhor som (Felippe Mussel), na competição de documentários. Acompanhamos os dois lados e a tentativa de uma convivência pacífica. Moradores acostumados às imposições do tráfico agora precisam lidar com a lei institucionalizada dos agentes e seu código, que nem sempre está de acordo com a palavra "pacificadora" presente na sigla. Em sua essência, "Morro dos prazeres" mostra o fracasso das políticas sociais que visam trazer uma nova realidade para territórios antes governados por traficantes. Há de ambos os lados (agentes e moradores) um sentido de descoberta no trato mútuo -- e as vantagens e desvantagens resultantes para os envolvidos. Para a polícia, as UPPs são, entre outras coisas, um marketing positivo, desde que feito com cautela. E para os moradores, qual o tipo de vantagem que há na presença de policias circulando o tempo todo em suas ruas? Teoricamente, há segurança e liberdade -- mas, na prática, como mostra o documentário, é diferente. As pessoas da comunidade, especialmente homens e jovens, não raro são tratados como bandidos em potencial. Após liberar dois rapazes de uma revista violenta à noite, na qual não encontraram nada de errado, um dos policiais diz: "Aí vai a semente do mal". Em alguns momentos, ocorre uma certa adesão do filme a esse espírito vigente, como no enterro de uma policial, quando um superior faz um discurso emocionado e inflado -- o que é natural, só não é tão natural assim da forma como o filme o coloca, já perto do final. Em última instância, "Morro dos prazeres", ao não capturar toda a complexidade da relação entre comunidade e UPP, atesta a limitação do formato e do próprio cinema, que sempre será incapaz de capturar a vida em sua totalidade, suas nuances. Por isso, recortes são necessários. (Por Alysson Oliveira, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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