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ESTREIA-Michael Caine interpreta um viúvo solitário em "O Último Amor de Mr. Morgan"

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Por Redação
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“Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Somente através do amor e das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento, de que não estamos sozinhos.” A frase de Orson Welles define bem o espírito, pelo menos inicial, de “O Último Amor de Mr. Morgan” (2013), o novo filme multinacional da alemã Sandra Nettelbeck que trata da solidão e de como ela sobressai com a falta daquelas pessoas e referências que antes preenchiam nossas vidas. A diretora, que ficou conhecida pela sua estreia no cinema com “Simplesmente Martha” (2001), refilmado em Hollywood como “Sem Reservas” (2007), parece usar sua própria experiência após a morte do pai, em 2007, para conduzir este longa, feito em memória dele. Baseado no romance “La Douceur Assassine”, de Françoise Dorner, a adaptação troca o então protagonista francês pelo norte-americano Matthew Morgan, professor de filosofia aposentado, interpretado pelo britânico Michael Caine, que não conseguiu superar a morte da esposa (Jane Alexander) após três anos. Quase recluso em sua casa em Paris e preso aos costumes que mantinha com a mulher, o viúvo perdeu o interesse pela própria vida – que dirá tentar aprender o idioma local, já que Joan falava francês pelos dois. Até que o encontro em um ônibus com uma jovem professora de dança, Pauline Laubie (Clémence Poésy), muda sua depressiva rotina. Apesar do sorriso no rosto e da alegria da dança que ensina, o cha-cha-cha, logo fica claro que Pauline também é bem solitária. Embora seja revelado que o pai dela morreu e que a jovem sente muita falta dele, o ar de mistério sobre a sua vida permanece até o fim da película, sendo um dos pontos positivos da história. Se o senhor Morgan projeta sua mulher falecida na moça, por sua vez, ela acaba se lembrando do pai quando está com ele. E assim nasce uma bonita relação de troca entre estas duas pessoas aparentemente tão diferentes, mas muito próximas em relação àquilo que sentem – existe inclusive certa dubiedade sobre um possível amor platônico entre eles, que é bem dosada. A fotografia sóbria e, às vezes, até escura de Michael Bertl, e uma surpreendente trilha contida e suave de Hans Zimmer também auxiliam na construção do clima que marca a primeira parte do filme. No entanto, quando o longa está próximo da metade, toma um rumo bem diferente, com a entrada dos filhos de Matthew vindos dos Estados Unidos, o ressentido Miles (Justin Kirk) e a pragmática Karen Morgan (Gillian Anderson). Após uma decisão extrema do ex-professor, entram também todas as fórmulas e recursos hollywoodianos já conhecidos. É empregado um certo didatismo em várias situações apresentadas, além de uma série de clichês um tanto desnecessários no último ato. A própria escolha final do Mr. Morgan parece algo feito mais para encaixar no desfecho sentimental que a produção procura. O principal problema não é a preferência por um viés já conhecido em si, mas o modo como isso foi feito, criando quase dois filmes distintos dentro de um só. Ao abrir mão da cartilha de Hollywood na primeira parte, “O Último Amor de Mr. Morgan” afasta os espectadores que preferem as fórmulas mais populares com o seu ritmo mais lento – mais europeu, genericamente falando –, mas condizente com a temática que propunha. Por outro lado, aqueles que apreciavam mais este estilo do início do longa, apesar de não gostarem do desenvolvimento dado à história, podem não perder todo o interesse muito por causa da empatia dos protagonistas, criada sem esforço por Michael Caine e com dedicação por Clémence Poésy, mais conhecida do grande público pela sua Fleur Delacour da franquia “Harry Potter”. (Por Nayara Reynaud, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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