Estréia "Meu Nome é Joe", premiado em Cannes

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Por Agencia Estado
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Um diretor hollywoodiano provavelmente não resistiria à tentação de romantizar o protagonista de Meu Nome é Joe. Felizmente, o inglês Ken Loach se mantém fiel ao estilo que o consagrou, com abordagem realista - o que inclui iluminação natural, locações autênticas, diálogos diretos e elenco de apoio recheado de atores não-profissionais. É essa ambientação quase semidocumental que dá ao ator escocês Peter Mullan as condições necessárias para construir seu personagem com irresistível naturalidade. Sua performance como o ex-alcoólatra que tenta acertar o passo na vida convence o espectador instantaneamente - sem que o ator precise passar por momentos intensos para dar a impressão de finalmente ter encontrado o tom do personagem. Por esse primeiro papel de protagonista, Mullan (coadjuvante em Coração Valente e Trainspotting) levou merecidamente o prêmio de melhor ator em Cannes em 1998. Delinqüentes - Joe Kavanagh, seu personagem, é um cara que cometeu vários erros e não consegue se livrar dos fantasmas do passado. Sem muito o que fazer da vida, morando em um apartamento mal-cheiroso em Glasgow, ele mata o tempo atuando como treinador de futebol de um time formado basicamente por delinqüentes. Como Joe está tentando recuperar a dignidade, resolve ajudar um dos jogadores da equipe, Liam (David McKay), que está em apuros por dever dinheiro ao traficante mais poderoso da cidade. Só que "ajudar" nesse caso significa mergulhar novamente no submundo - o que colocaria em risco o recém-estabelecido romance de Joe com a enfermeira Sarah. Química na tela Em um desempenho igualmente convincente da atriz Louise Goodall, Sarah representa a última chance de Joe encontrar a felicidade. Só que o relacionamento é complicado o suficiente - mesmo antes de Joe ter problemas com os traficantes locais. A forma como eles se relacionam é bastante realista, na medida em que ambos parecem carregar decepções que os impedem de alimentar grandes ilusões no amor. Desde o momento em que a dupla se conhece, do jeito menos romântico possível, eles estabelecem uma química na tela. É interessante perceber como a câmera de Loach captura essa atração mútua em momentos inesperados, como quando eles discutem na porta do jogador encrencado. Liam acaba sendo o elo entre os amantes. Ele é casado com a viciada Sabine (vivida por Anne-Marie Kennedy), que Sarah tenta reencaminhar na vida. Ainda que Peter Mullan e Louise Goodall não correspondam ao padrão de beleza a que o público está acostumado a ver no cinema, o romance é envolvente ?a platéia torce para que eles fiquem juntos. Um final feliz não está totalmente descartado. Mas, como se trata de um filme assinado por Loach (de Uma Canção para Carla e Terra e Liberdade), não dá para esperar soluções fáceis e principalmente milagres. Até porque seria uma incoerência imperdoável quebrar o tom realista na reta final.

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