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ESTREIA-John Turturro faz tocante viagem musical a Nápoles

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Por Redação
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O sangue italiano que corre nas veias do ator e diretor norte-americano John Turturro ("O Sequestro do Metrô 123") cantou mais alto no documentário "Passione", uma viagem à cidade mais musical da Itália, Nápoles. Fugindo, como ele próprio admitiu, da armadilha criada por uma visão romântica da cidade, com suas canções de amor, Turturro mergulhou no caldeirão cultural da cidade que viveu sob os domínios grego, romano e bizantino e só passou a integrar a Itália no século 19. Neste belo lugar que é o berço da máfia Camorra e está entre os mais violentos do mundo, Turturro também encontrou um povo que não se abate e procura viver a vida com as coisas boas que recebe, como a rica tradição musical. Nos becos, nas paredes cobertas de pichações, nas construções em ruínas, nos varais de roupa que cruzam as ruas sujas, a música está sempre presente. "Nápoles é uma cidade pintada de música", afirma Turturro, nova-iorquino descendente de imigrantes sicilianos e puglieses. Certamente por ter nascido em Nova York, outro caldeirão cultural formado pela herança deixada por imigrantes de várias nacionalidades, Turturro sentiu-se à vontade para percorrer as ruas e entrevistar as pessoas, ainda mais porque fala italiano fluentemente. Um dos cantores lhe diz que a alma napolitana é uma síntese das várias invasões que sofreu, um pouco do espanhol, do árabe, dos norte-americanos durante a ocupação da 2a Guerra Mundial. Um dos músicos napolitanos entrevistados, o saxofonista James Senese, emociona-se ao lembrar de sua infância, no pós-guerra. Filho de um soldado americano negro e de uma jovem napolitana, nunca conheceu o pai, que voltou para os Estados Unidos antes de ele nascer. Como Senese, outros músicos também ostentam traços de outros povos que por ali passaram e que ficaram incorporados em sua música. A cantora portuguesa Misia, por exemplo, acrescenta elementos do fado ao seu repertório napolitano. Turturro foi muito feliz na escolha das 23 músicas, nos arranjos e nas coreografias. Cada canção conta um pouco da vida daquela gente e é uma pena que as letras em napolitano não tenham sido traduzidas para o português, pois perde-se muito do lirismo e do humor tão característicos dos italianos do sul. O próprio diretor conduz as entrevistas, em italiano perfeito, e participa de uma coreografia divertida numa das canções. O filme também situa a cidade na história política italiana recente, como a entrada das tropas norte-americanas no final da 2a Guerra Mundial e a pobreza extrema vivida naqueles tempos e que parece nunca ter sido completamente superada. Trechos de filmes de arquivo do Instituto Luce mostram um povo abatido com as humilhações impostas pela guerra, mas ainda com ânimo para acreditar num futuro melhor. Depois de "Passione", será necessário adaptar o antigo provérbio napolitano: mais do que nunca, é necessário ouvir Nápoles antes de morrer. (Por Luiz Vita, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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