Estréia hoje "Osama", sobre o drama das afegãs

Filme mostra o Afeganistão quando o Taleban tomou o poder no país, com apoio dos Estados Unidos, e impôs sérias restrições às mulheres

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Por Agencia Estado
Atualização:

Estréia hoje o filme Osama, do diretor afegão Siddiq Barmak, uma co-produção entre Afeganistão, Japão e Irlanda. A história passa-se no Afeganistão, logo após a tomada do poder pelo Taleban. Estranho destino o desse país, pelo menos na mídia. Região montanhosa encravada no oeste da Ásia, o Afeganistão virou a menina dos olhos dos americanos, que puseram seus Exércitos em campo para defender o país invadido pelos soviéticos. Os afegãos foram pintados na mídia como generosos e hospitaleiros - o que pelas próprias condições geográficas não eram, evidentemente. O Taleban tomou o poder, mergulhou o país nas trevas do seu obscurantismo religioso e Washington não piou. O problema era dos afegãos, evidentemente, mas aí houve o 11 de setembro e o país, por sua alegada relação com o terror, foi bombardeado sem dó, ao preço das vidas de muitos civis que os americanos antes queriam salvar das garras do comunismo. Quem se importa com o sofrimento do povo afegão? O iraniano Mohsen Makhmalbaf importa-se. Fez O Caminho de Kandahar, falando sobre a condição da mulher na sociedade dos talebans. É o que está de novo em pauta em Osama. De acordo com as rígidas normas instaladas no país, as mulheres não podiam sair sozinhas na rua. Isso obriga uma enfermeira, que perdeu o marido e o filho na guerra contra os russos e os extremistas, a disfarçar o sexo da filha, para que a menina possa trabalhar, ajudando no sustento da casa. Ela vira o Osama do título, um garoto. Vive permanentemente o pânico de ser desmascarada. Vale destacar que Osama foi indicado para o Oscar de 2004, na categoria de melhor filme estrangeiro. Perdeu para As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand, e isto enseja uma reflexão que pode ser interessante. Na América xiita de Bush, o natural seria a Academia, se estivesse afinada com o discurso da Casa Branca, premiar Osama. Ao optar por As Invasões Bárbaras, a Academia sinalizou contra Bush - como já havia sinalizado ao premiar Michael Moore, no ano passado, por Tiros em Columbine. Essa sinalização não deve ser superestimada. Hollywood não está em guerra com Bush, mas o embate produziu uma vítima - e foi Osama.

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