Mesmo após a acolhida que o filme teve no Festival de Berlim – venceu o prêmio da crítica na seção Panorama e o Teddy Bear, o Urso de Ouro gay –, o diretor Daniel Ribeiro e o ator Guilherme Lobo confessam que não esperavam pelo que ocorreu com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho em Guadalajara. O México é um país mais conservador (homofóbico?) que o Brasil. Em 29 anos de festival, foi só há três que Guadalajara abriu espaço no cinema para temas gays e afins.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho não apenas ganhou o prêmio do público, como Guilherme, que faz o garoto cego que sai do armário, virou celebridade. "Se fosse em São Paulo, teria entendido, porque, afinal, é onde a gente mora. Mas foi no México." No hotel, era perseguido por fãs que queriam tirar fotos, pediam autógrafos. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho estreia em salas de todo o Brasil. A consagração não deve ficar exclusiva lá fora. É um belo filme.
Dos prêmios, todo mundo já falou – na Berlinale, no México. Vamos falar de mercado. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho estreia em 140 salas de todo o Brasil. Pode ser pouco em relação às 1.300 salas com que Rio 2 estreou há três semanas e, depois, as 1.020 de Noé e agora as 1.070 de Capitão América 2. Mas é um recorde para a distribuidora Vitrine, de Sílvia Cruz, que nos últimos anos se especializou em mostrar o cinema de ponta produzido no País. A Vitrine tem lançado os filmes que compõem a Mostra Aurora, em Tiradentes. Lançou O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. No fim do ano, em entrevista ao Estado, Sílvia citou os números de O Som ao Redor. O filme não batera 100 mil espectadores, mas chegara perto. Podia ser pouco. Afinal, o filme de Kleber foi uma unanimidade de crítica. Mas os 96 mil (número exato) eram mais que todos os demais filmes da carteira da Vitrine haviam faturado.
Para o tamanho com que costuma trabalhar, a distribuidora aventura-se agora num lançamento grande – seu maior. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho tem potencial para chegar a... Quantos mil espectadores? O importante é que você não precisa ser militante nem simpatizante gay para agitar a bandeira do filme de Daniel Ribeiro. Só tem de ser cinéfilo – de gostar de cinema, e de gente. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho retoma temas e personagens que o diretor Daniel Ribeiro já abordara em Eu Não Quero Voltar Sozinho. O filme anterior era curto, sobre um garoto gay e cego. Numa entrevista à TV Estadão, Ribeiro falou de suas dúvidas.