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ESTREIA-Filme retrata cantora e artista plástica Violeta Parra

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Por Redação
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Em 1964, o jornal francês "Le Figaro" escreveu: "Leonardo Da Vinci terminou no Louvre. Violeta Parra começa nele". Um comentário sobre a artista chilena que ignora, no entanto, a vida pregressa dela, antes de expor no museu francês, quando já cantava, compunha e fazia artes plásticas. A frase do periódico reflete a visão de cima para baixo do países ricos sobre os pobres e, ao mesmo tempo, coloca a artista chilena num merecido alto patamar. "Violeta Foi Para o Céu", um filme sensível e muito bem filmado, do chileno Andrés Wood, encontra o equilíbrio entre a Violeta segundo a visão europeia e a Violeta chilena, que se interessava por cantigas das pessoas simples do interior de seu país e que, mais tarde, se tornou famosa no mundo todo - inclusive no Brasil, com gravações feitas por Elis Regina e Milton Nascimento. Ganhador de diversos prêmios, entre eles o de melhor filme do cinema mundial no Festival de Sundance 2012, "Violeta Foi Para o Céu" recupera a figura de uma das personalidades mais instigantes e importantes da América Latina. Poderia ser mais uma história de artista apaixonada e destruída, mas Wood sabe como trazer à tona as dores e artes de Violeta Parra, que encontrou na atriz Francisca Gavilán a sensibilidade necessária para uma investigação da alma feminina. Francisca Gavilán se transfigura no papel de Violeta Parra, acompanhando algumas décadas na vida da artista. Sua transformação física a aproxima da personagem real, com maquiagem, figurinos e afins, mas é a compreensão do lado emocional que a atriz demonstra ter da artista que injeta densidade em sua bela interpretação. A própria Francisca canta com garra as músicas como se fossem dela mesma. Baseado no livro de memórias homônimo do filho da artista, Ángel Parra, o longa é um delírio de morte, da Violeta que agoniza pouco depois de atirar em si mesma, no dia do seu 50o aniversário, em 1967. O que ela vê em sua mente, e que dá estrutura ao filme, são flashes de sua vida, momentos marcantes, como a morte do pai, a apresentação itinerante de autos religiosos com a irmã, a apresentação na Polônia comunista, um conturbado romance com o músico suíço Gilbert Favre (Thomas Durand); e os últimos dias no seu centro de artes nos Andes. Os fragmentos são mostrados fora da ordem, ora seguindo a sequência cronológica, ora interrompidos por algum flashback do passado, da infância. No entanto, o arco narrativo nunca se torna confuso, pelo contrário, o passado ilumina o presente, que, muitas vezes, o reverbera. A fotografia luminosa de Miguel Ioan Littin realça as diferenças do meio rural e da Europa urbana. Uma longa entrevista à televisão argentina, do começo dos anos de 1960, funciona como guia nessa viagem pela vida e os amores da artista chilena, além de introduzir alguns momentos cômicos ao filme. Wood, que em sua filmografia conta com "Machuca" (2004), opta por investigar a intersecção entre a figura pública e o lado pessoal -com os dois filhos, Ángel e Isabel- e seu amor intenso por Favre, repleto de idas e vindas, no Chile e na França. As canções de Violeta, de certa forma, dialogam com a canção de protesto que iria explodir na América Latina poucos anos depois de sua morte. Uma delas, chamada "La Carta", diz: "Na minha pátria não há justiça, os famintos pedem pão, a polícia lhes dá chumbo". A própria arte plástica de Violeta -suas pinturas e estopas, conhecidas como serapilheiras- trazem em si a marca de sua pátria, de suas veias latino-americanas. Quando, em meados dos anos de 1960, Violeta volta para o Chile, ela monta uma tenda na região dos Andes, chamada La Reina, e espera transformá-la num centro de cultura popular. É tudo isso que ajuda Wood a compor um retrato sensorial da artista que usava de vários meios para se expressar. No filme, assim como na vida real, ela parece estar confortável em qualquer campo. Desde suas pesquisas iniciais com canções folclóricas até quando consegue expor na França, há, por parte dela, a busca por uma arte autenticamente chilena. O filme reflete isso. (Por Alysson Oliveira, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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