Estréia filme de Andrew Davis estrelado por Kevin Costner

Em Anjos da Vida, que conta também com a participação de Ashton Kutcher, o astro atua no papel do melhor nadador da Guarda Costeira americana, que vive crise

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Por Agencia Estado
Atualização:

Passe olimpicamente pelo começo e pelo fim de Anjos da Vida, com aquela construção do mito do guardião que vela pelos náufragos, empurrando-os para a superfície, quando estão desistindo de lutar. Isso é ?bullshit?, coisa de cinemão americano, que precisa sempre da idéia da segunda chance, do happy end a qualquer preço. No miolo, há um bom filme no longa que assinala o retorno de Andrew Davis, o diretor de O Fugitivo, após o desastre de Efeito Colateral. Para que o espectador não perca tempo, vamos logo dizendo do que trata Anjos da Vida, cujo título original é The Guardian (O Guardião, o mesmo que recebeu no Brasil o filme do argentino Rodrigo Moreno). Kevin Costner faz o melhor nadador da Guarda Costeira americana, o homem que contabiliza recordes em salvamentos no mar. Mas, quando o filme começa, ele é um homem em crise. Ao salvar um casal, precisa agredir o homem que, em desespero, compromete o salvamento da mulher. É o que está ocorrendo com ele próprio, no casamento. Para complicar, ele perde o melhor amigo no mar. Causa e efeitos - relações de causalidade -, típicas de Hollywood. Costner é ?encostado? como instrutor numa academia naval, a mesma onde vai estudar Ashton Kutcher. Arrogante e talentoso, excepcional como nadador, ele entra em choque com o instrutor, decidido a bater seus recordes. Costner terá de retirar do passado do garoto o trauma que ameaça transformá-lo num homem como o que ele é. Tudo isso parece, como se diz, déjà vu, mas algo se passa diante da câmera de Andrew Davis. De Código do Silêncio (com Chuck Norris!) a Um Crime Perfeito (remake de Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock) passando por O Fugitivo (baseado na velha série), ele construiu sua pequena fama como diretor de ação, capaz de realizar bons filmes formatados para astros e estrelas. Davis não perdeu a mão para as cenas de ação. Os salvamentos no mar são espetaculares em seu novo filme, que talvez só tenha um problema - com 2h20 de duração, talvez seja considerado um tanto longo. Mas é o tempo que Davis necessita para viajar por personagens mais complexos e verdadeiros do que os estereótipos que parecem. Há uma cena decisiva em Anjos da Vida, quando a dona da cantina diz para Costner que não tem problemas com seu corpo porque o que vê ali são as marcas de quem amou e viveu com intensidade. Envelhecer é merecimento, ela diz. O filme é um pouco a história de um homem que não tem essa sabedoria. Duas mãos lhe são estendidas como uma salvação, a da mulher e a do pupilo transformado em amigo, como no célebre afresco de Michelangelo na Capela Sistina, A Criação de Adão. Nas duas vezes, o herói rejeita a oferta. Costner já foi um astro. Conheceu o fracasso e a rejeição. Transmite uma idéia de amargura. Confere força a Anjos do Mar. Anjos da Vida - Mais Bravos Que o Mar (The Guardian, EUA/ 2006, 136 min.) - Ação. Dir. Andrew Davis. 12 anos.

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