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Estréia "Entre Quatro Paredes", azarão do Oscar 2002

Intimista e corajoso, filme de estréia de Todd Field é o mais depressivo dos cinco candidatos ao Oscar de melhor filme. Estréia nesta sexta-feira

Por Agencia Estado
Atualização:

Azarão na disputa do Oscar deste ano, Entre Quatro Paredes, do diretor Todd Field, também concorre nas categorias de ator (Tom Wilkinson) e atriz (Sissy Spacek). Sissy não faz nada que não esteja acostumada a fazer e talvez tivesse merecido mais a indicação no ano passado (por História Real, em exibição nos cinemas). Mas ninguém poderá reclamar se receber sua segunda estatueta: a primeira foi por O Destino Mudou Sua Vida, em 1980. Sissy não é menos que brilhante como a mãe devastada pela perda do filho. Passa toda a amargura, o ressentimento que consome sua personagem. Wilkinson é igualmente ótimo como seu marido. Talvez seja até melhor e, a seu favor, conta com o fato de estar revelando outra faceta do seu talento. Mas sua vitória é improvável, no ano em que dois astros negros são finalistas ao prêmio da Academia de Hollywood (Denzel Washington e Will Smith). Entre Quatro Paredes estréia nesta sexta-feira. Pode não ganhar o Oscar, mas já tem garantido o título de mais depressivo entre os cinco finalistas. Talvez venha a ser o filme mais depressivo de todo o ano. Isso significa que não é prazeroso de ver, mas não deve desanimar o público da experiência de compartilhar a dor dessa típica família norte-americana. Só não é O Quarto do Filho, mas, também, se fosse o deslumbrante filme de Nanni Moretti não teria chance no Oscar. Não deixa de ser curioso analisar Entre Quatro Paredes como um sintoma da forma como o público norte-americano consegue lidar com os temas da dor e da perda. A mulher de Sob a Areia, do francês François Ozon, não consegue enterrar o marido, portanto não realiza o luto que, Freud dizia, poderia ajudá-la a suportar a dor. A família de O Quarto do Filho realiza o luto e de alguma forma sobrevive ao desespero e chega unida ao final do filme de Moretti. E o pai e a mãe de Entre Quatro Paredes? São norte-americanos, num filme de Hollywood, e isso faz a diferença. Pode-se não gostar do filme de Todd Field, considerá-lo uma experiência particularmente difícil, mas não se pode negar sua importância nem deixar de creditar coragem ao diretor estreante. Field fazia videoclipes. Só lendo no seu currículo para saber. Não há o menor vestígio disso em Entre Quatro Paredes. Décadas de westerns celebraram a vingança - com o aprendizado - como tema essencial do mais norte-americano dos gêneros. Às vezes, os dois gêneros superpunham-se. Do western, a vingança virou tema corriqueiro de qualquer filme de ação. O sujeito sofre uma perda, vai lá, bangue-bangue, dá dois tiros e resolve o problema. Em geral, o cinema de ação de Hollywood não se preocupa com os efeitos da vingança na vida de quem se vinga. É o tema de Entre Quatro Paredes. Como relato, é intimista. Um filme lento, em vez de acelerado. O filho de Sissy e Wilkinson envolve-se com uma mulher separada do marido. Marisa Tomei, também indicada para o Oscar (de coadjuvante; poderá ser o segundo dela, após Meu Primo Vinny, em 1992), é mãe de dois filhos. O ex-marido é violento. Mata o namorado a sangue-frio. É indiciado, mas ganha liberdade, pagando fiança. Oprime, com sua presença cínica, o coração da mãe sofredora. O que se segue lança Entre Quatro Paredes no campo oposto a O Quarto do Filho. O mais impressionante é que Todd Field filma uma violência que não é catártica nem libertadora. Entre Quatro Paredes é uma história de mortos-vivos. Faz o público sair arrasado do cinema. Entre Quatro Paredes (In the Bedroom). Drama. Direção de Todd Field. EUA/2001. Duração: 130 minutos. 14 anos.

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