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ESTREIA-Em 'Sob a Pele', Scarlett Johansson vive alienígena

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Por Redação
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Tal qual a sua protagonista, interpretada por Scarlett Johansson, “Sob a Pele” é um filme repleto de camadas e que se revela aos poucos. Dirigido pelo inglês Jonathan Glazer, com roteiro dele e de Walter Campbell, o longa é vagamente inspirado num romance do holandês Michel Farber, do qual se aproveita a personagem e o clima de horror, resultando numa ficção científica que permite várias leituras. Aquela que remete a um ser estranho na Terra em busca de aventuras sexuais é a mais simplista. O que o filme revela, como toda boa obra do gênero, é mais do que há na superfície: é uma fantasia, mas também um comentário social, em seu nível mais profundo. Segundo os créditos, a personagem central se chama Laura, mas isso nunca é dito. Durante muito tempo, a vemos dentro de uma van branca, interagindo com homens aleatórios na rua. A pergunta básica: você tem família ou algum vínculo social? Logo descobrimos que a moça é uma devoradora de homens – não apenas num sentido figurado. Essa busca pelo espécime masculino que se encaixe no padrão que ela precisa preencher é incessante, perigosa, excitante – para ela e para a vítima que ainda desconhece seu destino. “Sob a Pele” é um sonho ou um pesadelo. Exibido no Festival de Veneza do ano passado, dividiu opiniões – como todo grande filme, afinal, unanimidades são, em última instância, diagnóstico de que há algo de errado com os avaliadores. Glazer até hoje dirigiu apenas outros dois filmes – o drama de máfia “Sexy Beast” (que caberia muito bem como título aqui) e “Reencarnação” (título raso que inventaram aqui no Brasil, e mais confunde do que vende seu segundo e excelente filme). Em cada um – e aqui não é diferente – há um poder visual muito forte. Suas tramas são contadas com poucas palavras, são mais calcadas em estímulos e pulsões, em imagens que pouco entregam e beiram a asfixia. O diretor levou quase dez anos para fazer esse filme. “Sob a Pele” poderia estar na mesma prateleira de outros horrores psicossexuais – especialmente “Repulsa ao Sexo”. Laura apenas excita, se recusa ao ato, apenas desperta, e frustra as presas que, até então, se julgavam os garanhões predadores. Nesse sentido, Scarlett Johansson, cuja beleza é impossível de ser apagada, joga contra todos os clichês que associam à imagem dela – e isso nada tem a ver com a peruca escura ou as tão comentadas cenas de nudez. Distante da caliente Cristina – uma norte-americana vivendo aventuras amorosas e sexuais na Espanha, em “Vicky Cristina Barcelona” – aqui ela é gélida como a Glasgow que serve de cenário para o longa. Laura é a fantasia de qualquer macho alfa que se transforma em pesadelo. Em outro nível, ela é a mulher independente, bem resolvida com a sua vida que assusta muitos homens no momento em que toma iniciativa; enfim, uma alienígena, como no filme. Diferente de qualquer outro alienígena dando seus primeiros passos na Terra, a heroína de “Sob a Pele” não é repleta de dúvidas ou hesitações – mostra a determinação carnívora em seu olhar tão gélido quanto envolvente. Não à toa, as primeiras imagens do filme são uma espécie de montagem desses olhos que muito verão e pouco compreenderão. A direção de Glazer valoriza a criação de um clima de pesadelo do qual não se quer sair e uma trilha sonora de Mica Levi, cujas cordas formam os ruídos de uma forma de vida estranha. E formas de vida são o que há ao centro de “Sob a Pele”. A jornada da alienígena na Terra é, em sua essência, uma lembrança estranha (para muitos até mesmo bizarra) daquilo que é ser humano. (Por Alysson Oliveira, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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