24 de maio de 2012 | 10h35
Os primeiros 15 minutos do filme mostram Amélie, ou melhor, Nathalie, vivendo um amor dos sonhos com seu marido. Conhecemos seu cotidiano, as pequenas alegrias e problemas de um casal normal. Até que um dia ele é atropelado e morre.
A vida de Nathalie sai dos eixos e ela se entrega ao trabalho sem qualquer limite, de forma quase doentia, a ponto de seus colegas pensarem --não sem razão-- que ela não tem uma vida propriamente dita.
A chegada a seu local de trabalho de um sueco desajeitado é a chance de mudança. Não que ele seja o príncipe encantado que resgatará Nathalie do seu luto eterno, mas, sem qualquer motivo aparente, ela o beija. A vida também sem graça de Markus (François Damiens) ganha um colorido especial, e ele pensa que ela está apaixonada por ele.
Bem, ela não está, mas vai ficar, diz a regra das comédias românticas. Do estranho início, o casal caminha para a compreensão e a mudança mútua de suas vidas, por conta desse relacionamento.
Transitando novamente entre as pequenas alegrias cotidianas e os exageros do cinema, o filme tende a flertar mais com o segundo do que com o primeiro. A vontade de contar a história de um amor-mágico vai contra qualquer naturalismo que poderia emergir dessa trama que, por natureza, não é capaz de se reinventar.
Os irmãos Foenkinos gostam dos exageros doces do amor e das amarguras que podem consumir e separar seus personagens. Às vezes, a dupla faz um retrato da solidão e da dor que funciona bem, mas quando eles querem ser "poéticos" caem no clichê da luz difusa e da trilha sonora "delicada" que parece assolar o cinema independente do mundo ao contar uma história de amor.
O personagem masculino, Markus, tem mais nuances e, por isso mesmo, um desenvolvimento mais interessante. De desconhecido solitário, ele se torna uma figura popular na empresa e sonha que se transformou num ímã para mulheres. A cena em que sobe uma rua e todas as modelos que parecem desfilar por ali flertam com ele é o que há de melhor no filme.
Por outro lado, a personagem de Audrey --talvez mais que a interpretação dela-- poucas vezes encontra a dimensão humana real de Nathalie. Ela se resume à versão triste de Amélie que não quer encontrar um novo amor. Subtrai-se o fator fofura da personagem, e o que sobra não é muito.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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