ESTREIA-Documentário recupera figura do artista carioca Hélio Oiticica

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Por Redação
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Vencedor do prêmio da crítica internacional na seção Forum do Festival de Berlim 2013, o documentário “Hélio Oiticica” virtualmente ressuscita a figura ímpar do artista plástico carioca, morto em 1980, a quem as artes contemporâneas no Brasil devem muitas coisas. Entre essas coisas, o conceito de “penetráveis”, que se transformou numa febre, reciclado nas atualmente chamadas “instalações”, e o próprio nome de batismo da Tropicália dos anos 1960, movimento que ele influenciou visceralmente. Seria muito difícil dar conta, por qualquer meio, de todas as dimensões deste artista múltiplo e ser humano inquieto, filho e neto de anarquistas – seu pai, o entomólogo e fotógrafo José Oiticica Filho -, que nunca se intimidou em sair das fronteiras da Zona Sul carioca, rumo aos morros e favelas da zona norte, convivendo tanto com sambistas quanto com marginais, alguns até criminosos mesmo. Uma liberdade e desprezo por fronteiras e limites que o levou a romper as barreiras da escultura e da pintura, rumo aos “penetráveis” e “parangolés”, arte que era possível vestir. Diretor e roteirista do filme, seu sobrinho César Oiticica Filho – que é também curador de sua obra – contou com a preciosa colaboração de Antônio Venâncio na pesquisa de um grande acervo de imagens de e com o artista. A pesquisa de áudio, que utiliza trechos das inúmeras fitas cassete que Hélio enviava a amigos, como Wally Salomão e Antonio Dias, permitem que o filme lhe dê voz diretamente. Assim, sem introdução nem narração explicativa, mergulha-se em falas de Oiticica contando sua vida, descrevendo suas buscas artísticas, realizando pequenos filmes super-8, atuando em filmes como “Câncer”, de Glauber Rocha, e “Uma vez Flamengo”, de Ricardo Solberg. O artista também comparece em imagens de arquivos de Jean Manzon, Carlos Vergara e Jards Macalé – que, aliás, interpreta com especial veneno a música de Caetano Veloso, “You Don't Know Me” na trilha sonora. Através da montagem de Vinicius Nascimento, estes fragmentos de Oiticica, muitos deles até aqui inéditos, consolidam um percurso transgressor, iniciado em plena ditadura militar, um choque que o conduz, assim como aos tropicalistas Caetano, Gilberto Gil e Jorge Mautner, para fora do país, primeiro em Londres. Depois, Hélio vai para Nova York, antes de voltar ao Brasil, onde morreu prematuramente, aos 42 anos. Nada melhor do que um filme tão rico de sua presença para recuperar o contato com um criador tão original, cuja influência persiste até hoje, ainda que muitos não se deem conta da paternidade de suas ideias e experiências, que ainda circulam por aí. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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