Os cariocas lotaram os cinemas logo nas primeiras sessões de A paixão de Cristo. Os espectadores se dividiram: muitos acharam a versão de Mel Gibson para o martírio de Jesus violenta demais; outros gostaram justamente do realismo que viram na tela. A maioria chorou durante o filme, principalmente nas cenas em Maria sofre com a dor do filho. ?Eu não consegui controlar as lágrimas. É muito bonito ver Maria chorando pelo que fizeram com Jesus?, disse a fisioterapeuta Flávia Barbosa, de 28 anos. Evangélica, Flávia se comoveu ao ver representado o sofrimento do mártir cristão. E não se incomodou com a abundância de sangue na maior parte das cenas. ?É claro que é desagradável, mas já esperava por isso.? O aposentado Wilson de Oliveira, de 81 anos, católico, achou o filme bastante fiel à Bíblia. Ele acredita que a produção irá agradar a pessoas de todas as idades e crenças religiosas. ?É uma história de dois mil anos que continua dando o que falar.? A mutilação do corpo de Jesus pelos soldados romanos causou repulsa no público. Já as tomadas em que Maria acompanha o açoitamento e a via-crúcis e troca olhares com o filho despertaram ternura. ?Mãe é sempre mãe?, lembrou o aposentado Oliveira. Ricardo Gomes, professor de inglês de 35 anos, estava ansioso pela estréia e tratou de comprar ingresso antecipado para não correr o risco de ficar de fora. Ele gostou do que viu e acredita que A Paixão de Cristo é um programa interessante para os seguidores do cristianismo e de outros credos. Bahia - O presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cardeal dom Geraldo Majella Agnelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil gostou do filme e chegou a recomendá-lo aos católicos. "Pode ir tranqüilo, mas sabendo que há cenas de violência muito fortes", disse na capital baiana, classificando a narrativa de "real" e didática para quem quer saber mais sobre o calvário de Jesus. Mesmo a suposta violência exacerbada do filme para dom Geraldo é fiel aos evangelhos. "O profeta Jeremias havia dito 700 anos antes de Cristo que Ele seria tanto açoitado que não restaria sinal de criatura humana no seu corpo". O cardeal voltou a opinar que o filme não é anti-semita. "A Igreja tem a convicção que Cristo morreu pelo pecado de toda a humanidade, não especificamente por culpa de um povo". Na visão do presidente da CNBB, o filme pode até reforçar a crença com suas imagens fortes. "A fé é um dom de Deus e às vezes a pessoa é atraída não se sabe porque; se você perguntar a um convertido o que o tocou, será certamente uma razão diferente do outro: eu acredito que um espectador que conhece a Bíblia, vai aprofundar ainda mais a questão da paixão de Cristo, enquanto que um outro sem ter familiaridade, pode buscar a leitura da palavra de Deus, seja tocado e nesse sentido acredito na contribuição desse filme". Rio Grande do Sul - O movimento da primeira sessão desta sexta-feira surpreendeu o gerente operacional do Cinema Imperial, Júlio César Fontoura, em Porto Alegre. Cerca de 200 espectadores fizeram fila no calçadão da rua dos Andradas, no centro da capital gaúcha, para ver a estréia do filme polêmico e tomaram quase a metade da capacidade da sala, uma das mais antigas e mais populares da capital gaúcha, com ingressos a R$ 4. Ao final da sessão, os espectadores demonstraram percepções diferentes sobre o filme. ?Este é o evangelho segundo Mel Gibson?, comentou o técnico em telecomunicações João Soares, um leitor que costuma buscar o caráter histórico na Bíblia. ?É a visão dele, mas pode ser muito real?, avaliou. Para Soares, a versão do diretor expressa alguma tentativa de acusar os judeus pela morte de Cristo. São Paulo - Em São José dos Campos, a Primeira Igreja Batista da cidade reservou sete sessões em duas salas de um cinema em um shopping para que os fiéis não perdessem a estréia do filme. Cerca de 1.200 evangélicos assistiram ao filme. A igreja se encarregou de vender antecipadamente os ingressos. Ao final de cada sessão o choro para muitos foi inevitável. Reações à parte, os fiéis saíram do filme com uma certeza: "este foi o real sofrimento de Jesus". "Chorei muito, fiquei chocada, mas assistiria outras vezes. Tudo aquilo é o que Jesus realmente sentiu" afirmou a recepcionista Jucilene Ribeiro, de 27 anos. "Ele (Jesus) sofreu tanto e a gente faz tão pouco ou quase nada", concluiu. Entre as pessoas que assistiram a primeira sessão do filme em Ribeirão Preto, alguns acharam interessante a visão do cineasta, outros um exagero. "Gostei do filme, mas achei pesada e exagerada a maquiagem dos ferimentos (de Cristo)", comentou o fotógrafo Paulo Villas-Boas, de 39 anos. "Com aqueles sofrimentos nos espancamentos ele (Cristo) nem chegaria à cruz (calvário)." Para o casal Juliano Balduíno, de 25 anos, repositor de mercadorias, e Renata Pedroso, de 23, conselheira tutelar, o filme é bom e não foi exagerado. "É forte", disse Balduíno. "É ótimo e se as pessoas puderem, devem assisti-lo, pois é uma lição de vida", recomendou Renata. "Os ferimentos tocam a todos e isso faz a gente dar valor à vida; vou parar para refletir", emendou ela.