07 de maio de 2014 | 16h53
Ator da prestigiada Comédie Française, Galliene interpreta um duplo papel, o dele mesmo, Guillaume, e de sua mãe - o que sinaliza o grande, mas também divertido, cínico e terno acerto de contas com esta figura central de alguns grandes equívocos na descoberta da identidade sexual do filho.
Com dois irmãos mais velhos, o caçula nunca é tratado como um dos meninos e sim pelo seu nome, Guillaume - o que dá a pista para o tratamento que ele recebe da mãe, que o coloca numa categoria à parte, como a filha que nunca teve.
Guillaume adora as mulheres, especialmente a mãe, e faz de tudo para agradá-la - inclusive parecer-se com ela. A ponto de sua avó (Françoise Fabian) eventualmente confundir a voz dele com a dela.
O pai (André Marton) vê problemas neste filho peculiar. Gostaria que ele, como os outros dois, se dedicasse a esportes, fosse mais viril. Ao invés disso, Guillaume faz o tipo delicado e intelectual e é surpreendido pelo pai, em seu quarto, interpretando a imperatriz austríaca Sissi, usando a colcha da cama como vestido.
Todo mundo acha que Guillaume é homossexual, inclusive ele mesmo. Suas experiências de vida igualmente conduzem neste sentido. Em férias numa cidadezinha espanhola, ele aprende a dançar a sevilhana com mulheres e, sem saber, imita os passos femininos, o que o torna motivo de riso.
Na escola interna britânica à qual é mandado, ele fica fascinado por um colega, apenas para decepcionar-se quando este se envolve com uma garota. Situações um pouco piores sucedem-se num internato francês, onde Guillaume é objeto de bullying.
Mas ele é gay mesmo? Suas hilariantes conversas com as tias excêntricas (Brigitte Catillon e Carole Brenner) oferecem algumas sugestões de como ele pode tirar isso a limpo. Mas a verdade é que ele vai ter que descobrir por si mesmo.
Ganhador de dez César, o principal prêmio francês, inclusive melhor filme e melhor ator, "Eu, mamãe e os meninos" extrai seu interesse do tom confessional do protagonista, que convoca a simpatia do espectador para seu pequeno calvário.
Uma atração à parte está na composição que ele faz da própria mãe, num tratamento que, se é ambíguo, reserva espaço para ironia, mas também bastante ternura - por mais que haja motivos para muita raiva. E assim compõe um mosaico emocional com muitas nuances e até algumas pequenas surpresas para o espectador.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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