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ESTREIA-Carlos Sorin analisa a velhice em 'A Janela'

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Por Redação
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Veterano premiado do cinema argentino, por filmes como "Histórias Mínimas"(2002) e "O Cachorro"(2004), Carlos Sorin retorna com uma história de dramaturgia minimalista no drama "A Janela". Vencedor do prêmio Fipresci (da Federação Internacional dos Críticos) no Festival de Valladolid (Espanha), o filme entra em cartaz no país nesta quinta-feira. Num filme que tem ecos assumidos de "Morangos Silvestres" (1957), de Ingmar Bergman, o protagonista é o velho escritor Antonio (o escritor e roteirista uruguaio Antonio Larreta), vivendo seus prováveis últimos dias de vida. A fragilidade de seu corpo, preso à cama e dependente de remédios, contrasta com a rebeldia de seu espírito, que parece disposto a sorver a máxima energia da natureza à sua volta. E mais - Antonio espera ansiosamente a volta do único filho (Jorge Diez), um pianista famoso,com quem ele não fala há anos. Seguindo seu estilo habitual, Sorin não fornece muitas explicações. Não se sabe ao certo a causa desse afastamento entre pai e filho. Não se sabe muito sobre a mulher dele, que morreu há muito tempo, e de quem restou um retrato a óleo na parede. Igualmente, pouco se revela sobre as duas empregadas da casa (Maria Del Carmem Jiménez e Emilse Roldán), que se revezam na atenção constante ao velho dono. A janela do título torna-se, assim, a metáfora da possibilidade de escapar para a vida externa, o que Antonio até fará, reunindo toda a sua energia - uma bela sequência visual do filme, em que sua fragilidade física é, mais uma vez, superada pela sua férrea vontade de ir de encontro a um vasto campo ao sol seco da Patagônia. Um personagem curioso é o do afinador de pianos (Roberto Rovira), que é chamado para preparar o velho instrumento abandonado para a visita do filho. Observador de fora, ele fornece momentos de real ironia e humor com seus comentários, quebrando a solenidade sentida na velha casa. Repleto de silêncios e lacunas, "A Janela" aproxima-se às vezes da economia narrativa dos filmes de sua compatriota Lucrecia Martel, diretora de "O Pântano" (2001) e "A Menina Santa" (2004), ainda que sem a mesma radicalidade. Em todo caso, para aproximar-se do filme de Sorin, o espectador terá de munir-se de muita entrega e atenção porque, nesta história, o sentido está, mais do que nunca, na obra deste diretor na atenção a toda uma série de pequenos detalhes e seu encadeamento. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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