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ESTREIA-Brad Pitt vive matador implacável em 'O Homem da Máfia'

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Por Redação
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As afinidades entre a política, o mercado financeiro e os gângsters são tratadas da maneira mais cínica no drama policial "O Homem da Máfia", nova parceria entre o diretor neozelandês Andrew Dominik e o astro Brad Pitt que, como fizera em "A Morte de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" (2007), protagoniza e produz o filme dirigido e roteirizado por Dominik. Mais uma vez, o ponto de partida de Dominik é um livro, no caso, "Cogan's Trade", de George V. Higgins, cujo enredo ele traz para 2008. E a assinatura visual do filme, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2012, é inconfundível. Valendo-se do recurso da câmera lenta em cenas de violência --um contraste acentuado pelo uso de músicas românticas-- e diálogos inusitados por serem ditos por quem são, Dominik compôs mais uma obra que ultrapassa o filme de gênero e é valorizada por uma precisa direção de atores. Aliás, o casting é o primeiro ponto forte de "O Homem da Máfia". Dois ladrões pés-de-chinelo, Markie (Scoot McNairy) e Russell (Ben Mendelsohn), assaltam uma casa de pôquer ilegal, a partir da dica de um amigo, o ex-presidiário Johnny Amato (Vincent Curatola). O golpe tem tudo para ser o crime perfeito porque a culpa deve cair nas costas de Markie Trattman (Ray Liotta), o administrador da casa de jogo, mas que foi o mandante de um outro assalto ali mesmo anos atrás. Embora todos os espertos do submundo saibam da culpa de Markie no golpe do passado, ele não pagou por isso --nada foi provado, ele levou uns sopapos e ficou por isso mesmo. Mas, na suposta reincidência, ele vai pagar o pato, até porque esse tipo de roubo paralisa por um bom tempo todo o lucrativo circuito do jogo ilegal. Furiosos com o prejuízo, os chefões --nunca identificados-- querem punição exemplar. Primeiro, para Markie. Assim, o "motorista" (David Jenkins), em nome dos chefões, convoca o melhor matador da praça, Dillon (Sam Shepard). Como ele não pode ir, envia em seu lugar o não menos respeitado Jackie Cogan (Brad Pitt). A terceirização do crime não pára por aí. Como Cogan é conhecido de Johnny Amato e ele detesta matar conhecidos --"fica emocional demais", segundo ele--, chama um outro colega para este serviço, Mickey (James Gandolfini, de "Família Soprano"). Todas as longas conversas para o planejamento de roubos e mortes evidenciam o modus operandi de uma verdadeira economia paralela em que os matadores sentem tanta piedade por suas vítimas quando os tubarões do mercado financeiro demonstraram pela apropriação das economias de investidores desavisados na crise mundial de 2008. O tempo todo vê-se nas televisões ligadas em bares e lanchonetes vários trechos da primeira campanha eleitoral de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, então enfrentando John McCain. A política, aliás, é vista com total desdém por todos os envolvidos. E o matador inteligente e implacável vivido por Brad Pitt tem as frases mais eloquentes de uma história totalmente niilista sobre os famosos ideais da nação norte-americana. Nisso, também, "O Homem da Máfia" mostra ser bem mais do que apenas um filme de gângsters, embora a lista de cadáveres pelo caminho não seja nada desprezível. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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