ESTREIA-'Beaufort' discute inutilidade da guerra

Vencedor do Urso de Prata (melhor direção) no Festival de Berlim 2007, e indicado para o Oscar de filme estrangeiro 2008, o drama "Beaufort", de Joseph Cedar, aprofunda uma discussão sobre a violência e a inutilidade da guerra que permite um diálogo com vários outros filmes, caso de "Lebanon", de Samuel Maoz, Leão de Ouro em Veneza 2009 e que, como o filme de Cedar, enfoca a guerra do Líbano de 1982. O ponto de partida das duas obras, no entanto, é bem diferente. Se "Lebanon" --que passou na Mostra Internacional de São Paulo há 3 anos, mas permaneceu inédito no circuito comercial-- abordava o início da guerra, "Beaufort" ambienta-se nos últimos dias da ocupação israelense do castelo de Beaufort, depois de uma permanência de 18 anos. A antiga fortaleza, localizada numa montanha no sul do Líbano, resistiu a diversas guerras desde o século 12, quando sobreviveu às Cruzadas. Suas paredes bombardeadas, mas ainda de pé, ostentam as cicatrizes de inúmeras batalhas cujos nomes já foram esquecidos. Um pequeno pelotão de jovens soldados israelenses ocupa um bunker construído ao lado do castelo. Ali dentro, a sensação de claustrofobia é total: paredes e escadas estreitas e escuridão só de quando em quando rompida por lanternas. O simples trajeto entre o bunker e os postos de sentinelas é arriscado, já que o bombardeio do Hezbollah é constante. O jovem comandante é Liraz (Oshri Cohen), que tenta manter o moral dos soldados, alternando motivação e rispidez. O desânimo já tomou conta da maioria deles, que só esperam a ordem de retirada para voltar para casa. A maioria das tarefas parece, então, sem sentido -- exceto manter guarda nos postos de sentinela, que observam o horizonte à procura de invasores. Apesar dos bombardeios, de vez em quando chegam helicópteros, com mantimentos, equipamentos e também novas tropas. Acaba de desembarcar Ziv (Ohad Knoller), um especialista no desmonte de bombas. Mesmo com a vigilância dos arredores dia e noite, foi colocado um artefato misterioso numa grande pedra ao lado da única estrada de saída do forte e ele precisa desativá-lo. A chegada do estranho desencadeia uma série de conversas, que permitem individualizar os soldados do posto: o atormentado Koris (Itay Tiran), oficial médico; o romântico Oshri (Eli Eltonoyo), que sonha em voltar para a noiva nos EUA; e o músico Shpitzer (Arthur Faradjev), que costuma tocar seu teclado para espantar o tédio. Adaptando romance de Ron Leshem, o diretor Cedar, um norte-americano de nascimento radicado em Israel desde pequeno-- aprofunda a reflexão sobre a falta de sentido no esforço de manter o castelo, cuja tomada parece ter sido acidental. Uma vez ocupado, porém, não pode ser abandonado. Agora, deixá-lo para trás requer toda uma estratégia complicada, e há um custo de vidas humanas a cada passo. Cedar, que passou nove meses na infantaria das tropas israelenses no Líbano, certamente usou a própria vivência para tornar mais autêntico o clima no bunker, em que o medo e a vontade de sobreviver se alternam numa gangorra infernal, ao sabor das oscilações da burocracia e da política do lado de fora.

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Por Redação
Atualização:

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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