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ESTREIA-Animação 'Um Time Show de Bola' revisita paixão pelo futebol

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Por Redação
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"As pessoas podem mudar tudo: de cara, de casa, de família, de namorada, religião, de Deus... Mas há uma coisa que não se pode mudar, Benjamín. Não se pode mudar de paixão." Foi assim que o cineasta Juan José Campanella expôs seu interesse pelas paixões humanas em "O Segredo de Seus Olhos" (2009). Por meio da fala de Sandoval (Guillermo Francella) para o seu chefe, vivido por Ricardo Darín, introduziu um desses arrebatamentos que o instigam: a paixão pelo futebol, tão caracterizada na cena seguinte a essa, o famoso plano-sequência de quase seis minutos de perseguição em uma partida do Racing. Após o filme ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2010, o diretor argentino encontrou no seu projeto seguinte, a animação "Um Time Show de Bola" (2013), a chance de aprofundar mais esse tema, apesar dele mesmo não compartilhar a fixação pelo futebol. Porém, mesmo sendo apenas um "torcedor de Copa do Mundo", como diz, ele se entrega tanto à temática abordada que, na primeira cena, apresenta uma clara referência visual e sonora a "2001 -Uma Odisseia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick, colocando a bola como um instrumento do desenvolvimento do ser humano, desde seus primórdios. A partir daí, a animação traz a história de Amadeo, um menino que encontra seu talento e uma centelha de alegria em uma mesa de pebolim, ou totó, entre outros nomes dados ao jogo nas diversas regiões do Brasil. O garoto cresce e tenta lidar com as dificuldades do amadurecimento até que Grosso, um famoso jogador de futebol que fora derrotado no pebolim pelo protagonista durante a infância, volta querendo se vingar dele e do vilarejo, demolindo tudo à sua volta. Como visto em "O Segredo dos Seus Olhos", esses rancores e mágoas do passado, uma insistência humana em olhar para trás, são mais um tema de interesse do cineasta. Assim, Amadeo tem de enfrentar esse homem, que reúne em si todas as características egocêntricas dos astros do futebol de hoje. Nessa luta, conta com a ajuda da garota por quem sempre foi apaixonado, Laura, e dos bonequinhos do totó, que ganharam vida e saíram da mesa para auxiliá-lo nesse desafio. A coprodução da Argentina e da Espanha, além de criticar os ídolos vazios do futebol, também censura todo o marketing voraz e as negociações escusas de empresários que cercam este esporte. Nisso, Campanella faz uma veemente defesa das tradições e da pureza, ao dar destaque a dois garotos e algumas pecinhas de metal e manter sua predileção de contar a história da luta dos mais fracos contra um sistema opressor. Mas se, em "O Segredo...", o destino era cruel com os personagens que enfrentavam uma Justiça que tende a pender para o lado dos poderosos, "Um Time Show de Bola" não é tão realista ou pessimista, por se tratar de um daqueles filmes feitos para toda a família. Talvez por essa tentativa de agradar a todos, o roteiro não seja um dos pontos fortes do longa e não traga grandes novidades. Por outro lado, é na estética que essa animação em 3D impressiona. Com os recursos técnicos em mãos, o cineasta pode realizar alguns planos que seriam impossíveis no live-action, tornando a produção diferenciada neste quesito em relação ao que é comum no gênero. O filme foi muito bem em sua terra natal, quebrando todos os recordes de bilheteria do cinema argentino logo nos primeiros dias de exibição e pode ter uma boa carreira no circuito brasileiro, em que estreia em 500 cópias, todas dubladas, e também no formato 3D. Por falar do esporte mais praticado no país, por causa da adaptação dos diálogos realizada pela dublagem e por trazer o verde e amarelo -mesmo que seja em listras- na camisa do time de pebolim, a animação deve gerar fácil identificação por parte do público no Brasil. (Por Nayara Reynaud, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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