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ESTREIA-'Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros' cria biografia trash do ex-presidente

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Por Redação
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Abraham Lincoln morreu em 1865, aos 56 anos, não apenas como o presidente dos EUA que expurgou a escravidão de seu país, razão pela qual foi assassinado, mas como líder inconteste de uma nação dilacerada por conflitos internos. E heróis como ele não são afetados pela modernidade ou mesmo por uma literatura oportunista como "Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros", do escritor norte-americano Seth Grahame-Smith, que acaba de ser adaptada para às telas. O livro nada mais é do que uma mistureba de fatos históricos com a mente delirante do autor, e sua queda para o terror e a ultraviolência. Uma tendência, chamada de mash-up classic, inaugurada pelo próprio autor com "Orgulho e Preconceito e Zumbis" (baseado no clássico de Jane Austen), na qual o vilarejo de Meryton convive, além das intrigas, com uma praga de mortos-vivos e a protagonista, Elizabeth Bennett, é treinada por um mestre shaolin para se tornar uma matadora de zumbis. No entanto, embora sua primeira obra seja uma divertida ideia, que une humor pop à linguagem clássica de Austen --que, aliás, promete também virar filme em 2013--, "Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros", como se vê nas telas, carece da mesma engenhosidade. Anacrônica e pouco coesa, a produção, cujo roteiro é do próprio Grahame-Smith (que também escreveu "Sombras da Noite", de Tim Burton), não possui tensão narrativa suficiente para envolver o espectador. Abraham Lincoln é apresentado no filme ainda criança, aos 9 anos, quando vê sua mãe ser vítima do vampiro Jack Barts (Marton Csokas). Quando adulto (aqui, interpretado por Benjamin Walker, de "A Conquista da Honra"), volta em busca de vingança, mas se dá mal nas mãos do vampiro e só não morre graças à ajuda do misterioso Henry Sturges (Dominic Cooper, de "O Dublê do Diabo"). Será Henry que revelará a Abe o mundo dos caçadores de vampiros, que acabará tomando para si após um rápido treinamento. Assim, o herói divide seu tempo entre o trabalho como balconista, as aulas de Direito e à matança dessas criaturas sobrenaturais. Essa luta desperta a fúria do grande mestre vampiro Adam (Rufus Sewell, de "O Turista"), que planeja eliminar o rapaz por dois motivos. O primeiro é sua dedicação noturna de exterminar seu clã. O segundo é a postura ideológica do futuro presidente. Nessa sociedade vampiresca, totalmente integrada à sociedade norte-americana da época, os escravos, na verdade, são alimento e qualquer levante abolicionista é uma ameaça. O fato é que Grahame-Smith não esmiúça esse conflito, iniciado quando o protagonista tinha pouco mais de 20 anos. A história, a saber, salta mais uma vez, à revelia do entendimento do público, para o um Lincoln já presidente e cinquentão e em meio à Guerra Civil que dividiu os Estados Unidos entre a aristocracia rural e escravagista do sul e a burguesia industrial do norte. Os vampiros, claro, armam um exército para lutar pelos ideais do Sul. O autor também joga para o alto qualquer precisão histórica para fundamentar seu conto sobrenatural. Não se pede que seja muito detalhista, afinal é uma ficção, mas há um limite de tempo e espaço para que, por exemplo, armamentos cheguem ao campo de batalha, como na de Gettysburg, decisiva para o resultado da guerra. Incomoda também ver tão descaradamente a utilização de lentes de contato ou projeções fotográficas entre outros fatos fora de época. Com o fraco enredo, o que sobra para o espectador é apenas o talento do diretor russo Timur Bekmambetov. Como em "Guardiões da Noite" e "O Procurado", ele consegue trazer uma experiência estética com a técnica que põe em prática na produção, apesar do roteiro trazer muito pouco. Nada extraordinário, mas um trabalho muito vigoroso. O praticamente desconhecido Benjamin Walker, genro de Meryl Streep, consegue dar o mínimo de dignidade ao seu personagem histórico, apesar de todo sangue e pancadas. Ele ganhou o papel depois de recusas de atores como Tom Hardy Eric Bana, Timothy Olyphant, Adrien Brody, Josh Lucas, James D'Arcy e Oliver Jackson-Cohen. O Abraham Lincoln de Grahame-Smith não é menos virtuoso do que o original. Sobreviveu à guerra, às intrigas de Estado e, agora, aos vampiros. Embora o assassino John Wilkes Booth tenha tirado sua vida, ele paira acima de tudo isso como uma personalidade verdadeiramente imortal. (Por Rodrigo Zavala, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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