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ESTRÉIA-'A Via Láctea' aposta em narrativa sofisticada e musical

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Por Redação
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A diretora paulistana Lina Chamie, formada em música nos Estados Unidos, costuma sempre dedicar grande atenção à trilha sonora de seus filmes. Foi assim em seu longa de estréia, "Tônica Dominante" (2000), em que a música percorre todo o enredo do filme e interfere em seus sentimentos e histórias pessoais. Isto se repete em seu segundo filme, "A Via Láctea", que estréia no Rio de Janeiro e São Paulo, depois de abrir a Semana da Crítica, uma das seções do festival de Cannes, em maio. Neste novo trabalho, a trilha sonora inclui desde clássicos como Schubert, passando pelo pop e até melodias do desenho "Tom e Jerry". Heitor (Marco Ricca, de "O Invasor") é um professor universitário que briga ao telefone com sua namorada Julia (Alice Braga, de "Cidade Baixa") por causa de uma bobagem, e acaba sugerindo que ela procure um outro homem (Fernando Alves Pinto). Arrependido, o protagonista não consegue telefonar para a moça e acaba tendo que cruzar a cidade de São Paulo em meio a um trânsito caótico de final de dia para fazer as pazes. Enquanto tenta fazer esse trajeto, Heitor repassa a sua história com Alice. Eles se conheceram numa peça teatral. Ela pensava em ser atriz, mas acabou tornando-se veterinária. A diferença de idade e interesses algumas vezes também foi causa de brigas entre o casal. "A Via Láctea" é um filme que dialoga com outras artes. Nele, pode-se encontrar a pintura (na fotografia), a escultura (nas formas da cidade de São Paulo), a poesia (Drummond, Manuel Bandeira), o teatro e a dança (ambos numa cena com o Teatro Oficina) e a música (espalhada por todo o filme). Combinando trilha sonora e imagem, Chamie cria sequências memoráveis, como um jogo de esconde-esconde entre Heitor e Julia nas prateleiras de uma livraria ou um pedido de casamento de amor no topo de um edifício no centro de São Paulo. Trabalhando com a justaposição de imagens e sons, a diretora não tem medo de ousar e colocar momentos de silêncio absoluto depois de um som ensurdecedor. Assim, ela também procura despertar os sentidos do público. São Paulo é uma personagem do filme, com seus habitantes e peculiaridades, como a avenida Paulista e o trânsito parado, as pessoas que vêm e vão sem se dar conta umas das outras e o colorido que tenta vencer o cinza do concreto. E tudo aquilo que parece não fazer sentido na narrativa, que trabalha com idas e vindas no tempo, explica-se nos minutos finais do filme, com muita astúcia, aliás. A maior parte do filme foi feita em digital, com uma pequena câmera, que permitiu que a diretora tivesse a agilidade necessária para transitar pelas ruas e capturar flagrantes. (Alysson Oliveira, do Cineweb)

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