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Estréia a comédia <i>Pequena Miss Sunshine</i>

O longa de estréia de Jonathan Dayton e Valerie Faris conta a saga de uma família numa kombi caindo aos pedaços, tentando realizar o sonho de Olive que quer ser miss mirim

Por Agencia Estado
Atualização:

Nem tudo é Mostra nos cinemas da cidade. Se você ficar ligado somente na maratona que Leon Cakoff criou há 30 anos, programando-se para ver o maior número possível dos 420 títulos que o evento deste ano anuncia, vai terminar perdendo uma pequena jóia que entra no circuito normal. Fique de olho em Pequena Miss Sunshine" O longa de estréia de Jonathan Dayton e Valerie Faris fez sucesso em Sundance, no começo do ano, e ganhou o prêmio de melhor filme do Festival de Cinema Norte-Americano de Deauville, na França, que ocorre quase simultâneo ao de Veneza. Sundance virou sinônimo de produção independente nos EUA, mas de tal maneira a mesmice vem imperando neste tipo de cinema - e os diretores parecem cada vez mais se empenhar em fazer filmes que sejam portfólios para que eles sejam contratados pelas majors -, que é até salutar assistir a esta espécie de "Família Rodante" made in USA. Dayton e Valerie, além de diretores, são também roteiristas, vindos da TV e do videoclipe, o que não aparece muito (ou nada) no formato que imprimiram à história de Olive, a menina interpretada por Abigail Breslin, que quer participar de um concurso de miss mirim, mesmo que não tenha lá o physique du rôle necessário. Como a família está praticamente falida, a possibilidade de ganhar algum dinheiro anima todo mundo e lá se vão eles, numa união precaríssima, numa kombi caindo aos pedaços porque a idéia de Dayton e Valerie é que só a desgraça une as pessoas. A tese, no fundo, é a mesma que Alejandro González-Iñárritu transforma em tragédia em Babel, atração deste primeiro fim de semana da Mostra, e que a dupla de diretores americanos prefere tratar com humor (muitas vezes Negro). Sátira implacável da sociedade americana Num certo sentido, Pequena Miss Sunshine parece uma súmula dos personagens desajustados que você já se acostumou a ver em filmes independentes. Greg Kinnear faz o pai que dá palestras sobre como vencer na vida e cujo sonho é publicar um livro de auto-ajuda, para sair do atoleiro em que se encontra, pois é um perdedor nato. Tem o avô viciado em heroína (e pornografia), o tio suicida (e gay), o irmão revoltado (e que sonha ser piloto) e as mulheres - a mãe tem de ser uma fortaleza para administrar todo este caos e Olive é uma gracinha, apesar de feinha. No meio do caminho, ocorre uma morte que tem de ser disfarçada, o que faz com que Dayton e Valerie pareçam se inspirar em Cerimônia de Casamento, do tempo (no século passado) em que Robert Altman era bom. A chegada da família ao local do concurso é muito engraçada pela riqueza de observação humana e social que permite aos diretores fazerem uma sátira implacável da sociedade americana. A questão é como terminar uma história dessas? Dayton e Valerie, de alguma forma, terminam acreditando na união contra a desgraça, mas o desfecho positivo tem tanto humor que você não vai achar que seja uma concessão (uma grande concessão, pelo menos). E o que ocorre é hilário - veja para ver. O elenco todo é bom (Kinnrear, Toni Collette, Alan Arkin, Paul Dano, Steve Carrell), mas a alma do filme é a pequena Miss Sunshine, interpretada por Abigail Breslin. Ela é uma criança e parece uma criança. Não é uma adulta metida num corpo infantil, como Dakota Fanning. Até nisso, Dayton e Valerie acertam. Seria exagero dizer que o filme deles é 10, mas uns 8... Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, EUA/2006, 101 min Comédia. Direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris. 14 anos Em grande circuito. Cotação: Ótimo

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