"Estórias de Trancoso" busca apoio para finalização

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Por Agencia Estado
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Foi amor à primeira vista. Em 1974, convidado por um amigo, Augusto Sevá tomou a estrada de terra que saía de Porto Seguro e, após 40 km de aventura, chegou ao lugar que, aos seus olhos de forasteiro deslumbrado, pareceu o paraíso na Terra. Trancoso, naquele tempo, era só uma vilinha de pescadores. Tinha o ´quadrado´, como chamavam seus habitantes, um agrupamento de casinhas em torno do gramado que fazia as vezes de praça central, campo de futebol e acesso à entrada da igrejinha de São João. Era assim desde os tempos em que Trancoso era só uma vila de jesuítas. Tudo tão lindo que Sevá fez daquele lugar sua terra de adoção. Ainda nos anos 1970, em companhia da mulher, Isa Castro, fez um filme contando a história da descoberta de Trancoso. Agora, 28 anos depois, capta recursos para finalizar outro filme. Chama-se Estórias de Trancoso e foi premiado no concurso de baixo orçamento da Secretaria do Audiovisual, o chamado BO. Sevá levantou ali os R$ 370 mil que, somados aos R$ 100 mil que obteve da BR Distribuidora, por meio das leis de incentivo, lhe permitiram filmar e fazer o primeiro corte de três horas de duração. Ele precisa agora de R$ 330 mil para a finalização e comercialização de Estórias de Trancoso. O orçamento total - basta somar esses números - é de R$ 800 mil. Em A Caminho das Índias, seu filme com Isa, Sevá recorreu às chaves da alegoria para contar a história do Descobrimento do Brasil e, quase 500 anos depois, a de Trancoso como centro turístico. Hoje, a cidade - e toda aquela região, incluindo Porto Seguro, claro - é o segundo maior pólo turístico do País. Sevá agora conta, em chave naturalista, as histórias de Trancoso. Seu filme é uma comédia romântica sobre a infância e adolescência dos nativos do povoado no decorrer dos anos 1980. Por que esta época? Nos anos 1970, alegóricos, era um mundo novo que se abria. Nos 1980, a comunidade com características tribais e tradições seculares passou, por força da indústria do turismo, a viver um inesperado contato com valores e também benefícios e vícios da sociedade urbana. Os anos 1980 mudaram tudo em Trancoso. Sevá, com sua sensibilidade de cineasta, tendo conhecido a Trancoso anterior, quis contar a história dessa mudança. Para expressar o período histórico, recorreu a experiências individuais. E, assim, criou os personagens dos dois meninos e duas meninas. Dois casais de jovens que transitam da infância para a idade adulta. Vivem os típicos sonhos de adolescentes, sentem aflorar a sexualidade, descobrem o amor. E, neste quadro de transformações físicas e psicológicas, é a cidade que muda, dando dimensão quase documentária às ficções individuais. Mobilização popular - Hoje, Trancoso continua pequenina e charmosa, mas oferece restaurantes sofisticados, muitos ateliês e abriga gente famosa que vai lá para repor as energias. Se você achar que viu Gal Costa ou Elba Ramalho no mar de Trancoso não será alucinação. As duas são veranistas da praia situada no sul da Bahia, pertinho de Porto Seguro, onde desembarcaram os marinheiros de Pedro Álvares Cabral, fazendo dali o marco geográfico inicial do Descobrimento do Brasil. Há quase dez anos Sevá vem trabalhando no projeto das histórias de Trancoso. Começou em 1994. Desenvolveu a história, escreveu o roteiro, iniciou a captação. Queria usar atores locais para colocar na tela as histórias de Trancoso. A cidadezinha, pouco mais de uma vila, tem hoje cerca de 4 mil habitantes. Sevá fez concurso para selecionar o elenco. Houve 800 inscritos, um quinto da população inteira. Só isso dá uma idéia de como o filme mobilizou a comunidade. São histórias simples. Um garota apaixona-se por um italiano, segue-o até a Itália, mas não se dá bem no outro país e volta para Trancoso. Um rapaz apaixona-se por uma paulista, segue-a até São Paulo e também não se dá bem na cidade grande. Volta para Trancoso. Ao longo de dez anos, acompanhando essas idas e vindas, o filme faz a crônica da velha e da nova Trancoso, acompanha a interação e os conflitos de dois Brasis que convergem na mesma década e no mesmo lugar. É um filme de amor pelo lugar que representa um estado de espírito. Sevá gosta de dizer que ele e Isa gostam tanto de Trancoso que fizeram um filho e um filme lá. Hoje, Sevá desenvolve múltiplas atividades. Como cineasta e também como um dos quatro diretores da Agência Nacional de Cinema, tem casas em São Paulo, no Rio e em Brasília. Mas não se desliga de Trancoso. Naquela cidade, sem trocadilho, tem o seu porto seguro. No processo de finalização, ele quer dar importância especial à música. Quem conhece Trancoso sabe que é um lugar muito musical. Foi o berço da lambada e também dessa variante do forró que se chama de forró universitário, que hoje faz tanto sucesso de público. Sevá acha que estará traindo Trancoso se não colocar essa musicalidade na tela. No processo de realização de Estórias, ele conta com um aliado, na verdade um cúmplice. É o produtor Mário Sérgio Loschiavo, cuja empresa, a MS39 Produções Limitadas, responsabiliza-se pelo projeto. Sevá tem um currículo respeitável. Foi assessor de cinema e vídeo da Secretaria Municipal de Cultura, dirigiu o projeto Aguamarinha, que inclui série de TV, vídeos didáticos e banco de dados sobre o arquipélago de Abrolhos. Aliás, foi em Trancoso, quando fazia A Caminho das Índias, que Sevá ouviu a primeira referência a Abrolhos. "Era um espaço mítico para os pescadores", define. Interessados em participar, financeiramente, da finalização de Estórias de Trancoso devem contatá-lo no telefone (11) 3862-7946 ou pelo e-mail da produtora: mloschiavo@terra.com.br.

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