Especialistas analisam futuro do 3D no cinema

Diretores de fotografia britânicos reprovam uso de recurso.

PUBLICIDADE

Por Vincent Dowd
Atualização:

Três anos atrás o público do mundo todo correu para os cinemas para ver o filme Avatar, do diretor americano James Cameron. O longa se transformou rapidamente em uma das maiores bilheterias de todos os tempos, em parte devido ao uso surpreendente da tecnologia em 3D. Mas, atualmente, Avatar parece continuar como o ponto alto dos filmes com esta tecnologia e poucos foram os longas lançados depois daquele ano que mudaram os padrões estabelecidos por Cameron. Com isto, surge o questionamento: o 3D já teria se transformado em uma ferramenta ultrapassada? Nic Knowland é um respeitado diretor de fotografia britânico, com 30 anos de carreira. Ele já presenciou tendências e modas do cinema, mas afirma que o 3D não o empolgou. "Pode oferecer algum valor de produção e escala para alguns tipos de filmes. Mas, para muitos filmes oferece apenas distração e algumas experiências bem desconfortáveis para o público", disse. "Ainda não encontrei um diretor de fotografia que seja realmente entusiasmado com isso", acrescenta. Revelando truques Oliver Stapleton é outro diretor de fotografia que não aprova o 3D. Ele já trabalhou em longas como Regras da Vida e A Proposta. "O 3D é a antítese da narrativa, onde a imersão no personagem é o objetivo. Nos lembra constantemente que você está olhando para uma tela e evita completamente o envolvimento emocional. Não existe semelhança entre a visão natural humana e o 3D no cinema." "O 2D não revela os truques do cinema do mesmo modo. Claro, isto é porque nós estamos acostumados (ao 2D), mas também não se está tentando imitar nossa visão", afirmou. "Meu objetivo como diretor de fotografia é fazer com que os pontos nas roupas fiquem invisíveis. O 3D fala: 'olhe para mim, sou um filme!', o 2D simplesmente diz 'era uma vez...'" Nic Knowland e Stapleton admitem que a tecnologia 3D pode ser usada em alguns filmes de animação, como o próprio Avatar. Knowland afirma até que este foi o caso com o melhor uso da ferramenta. Mas nenhum dos dois acredita que a ferramenta pode servir para todos os filmes, como dramas. Uso inteligente No entanto, um filme lançado recentemente, A Vida de Pi, do cineasta Ang Lee, usa os recursos de 3D em um filme que não é exatamente de ação e conseguiu muitos elogios. Os críticos gostaram do modo criativo e seguro com que Lee usou a ferramenta no longa que conta a história de um jovem náufrago que precisa sobreviver em um pequeno barco à deriva no oceano onde também está um tigre criado a partir de efeitos especiais com um realismo assustador. "Talvez pelo fato de a experiência 3D ainda ser nova, ela ainda confunde alguns públicos. Mas um bom diretor pode usar esta confusão como uma ferramenta convincente, para fazer o público acreditar no que está na tela", disse Lee. No entanto, o diretor confessa que tinha dúvidas quanto ao uso do 3D. "Temos um longo relacionamento com a aparência 2D e como nos deu boas narrativas. Crescemos gostando de sua solidez, apesar de os cineastas compensarem o olho com a ilusão de profundidade e sombras", afirmou o cineasta. "3D é mais ilusório, confiamos e desconfiamos ao mesmo tempo. Acho que nos lembra os primeiros filmes que vimos em nossa infância." "Quando um novo meio aparece, as pessoas não levam a sério, pois não associamos com bons filmes. É usado para desenhos, filmes de ação e terror barato. Mas o meio é neutro, (o que importa) é como ele é usado. E ainda estamos estabelecendo sua linguagem", disse Ang Lee. Novo mercado Torsten Hoffman é alemão e, recentemente, mudou seu site, o 3DContent Blog, para a Austrália. Ele afirma que agora está seguindo para um lugar onde afirma estar o crescimento real do mercado 3D: a Ásia, principalmente a China e a Coreia do Sul. "Apenas na China existem cerca de 10 mil telas equipadas para 3D, quase um quarto do total mundial. E, quando o público chinês tem a escolha entre ver o filme em 3D e 2D, eles, em sua maioria, escolhem a primeira opção", disse. De acordo com Robert Mitchell, da revista Variety em Londres, públicos da Europa e dos Estados Unidos são mais seletivos. "A maioria das pessoas ficou bem sofisticada sobre o que eles realmente precisam ver em 3D (...). Depois do ponto alto de Avatar, as pessoas ficaram espertas com filmes menores onde provavelmente não vale a pena pagar o acréscimo [no ingresso para o] 3D." Para Mitchell, diretores como "Win Wenders, Werner Herzog, Martin Scorcese e Ang Lee mostraram que o 3D pode ser usado de uma maneira interessante". "3D não é só lixo, e aqueles que dizem que a tecnologia é um fracasso estão exagerando. Mas, até o momento, Christopher Nolan não é fã e nunca vamos ver um filme de Quentin Tarantino em 3D - ele nem gosta de digital." Mitchell afirma que o próximo grande teste para a ferramenta será o novo filme de Baz Luhrmann, a nova versão de O Grande Gatsby, com Leonardo DiCaprio. "Não parece natural para o 3D, mas Luhrmann é um diretor muito estilizado e pode fazer funcionar." "O sentimento que existia há três anos, que todos os estúdios queriam que o 3D fosse a escolha automática para todos os grandes filmes, passou. Os cineastas reagiram e venceram", acrescentou. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.