30 de julho de 2010 | 12h24
Mas existe outro lado desse homem que gosta de andar de pijama e é conhecido em todo o mundo por seu apelido, Hef. Ao lado da liberdade sexual, Hefner já defendeu os direitos civis, publicou matérias contestando o macartismo e a Guerra do Vietnã e foi defensor da causa gay e da legalização da maconha.
O documentário "Hugh Hefner: Playboy, Activist and Rebel" estreia nos cinemas na sexta-feira, mostrando ao público esse outro lado de Hefner, que concedeu uma entrevista à Reuters na mansão Playboy para falar do filme, o conservadorismo político de hoje e como ele gostaria de ser lembrado.
Pergunta: O sr. acha que essa parte específica de sua vida, o ativismo social, é pouco percebida em função da atenção voltada a seu estilo de vida?
Resposta: Acho que não. Acho que Ray Bradbury expressou a coisa muito bem algum tempo atrás quando estava falando da revista e disse: "As pessoas não enxergam a floresta porque só veem as árvores." Em outras palavras, só veem o estilo de vida, as garotas bonitas, as modelos Playboy, etc. Isso é simplesmente tudo que atrai a atenção.
P: O documentário trata da ironia de seus dois lados: a vida despreocupada, por um lado, e o ativista político sério, por outro. O que há de comum entre os dois aspectos?
R: Não são exatamente a mesma coisa? Ou seja, a revolução sexual e a emancipação racial não foram a mesma coisa? Acho simplesmente que essas são áreas de nossa sociedade livre que não têm sido verdadeiramente livres e não têm recebido o tratamento adequado.
P: Muitas pessoas diriam que não, e que a liberdade sexual que o sr. advoga na realidade não passa da objetificação das mulheres.
R: Qualquer pessoa que pense que nós objetificamos as mulheres de maneira negativa tem uma agenda política própria. Isso vem diretamente de nossa herança puritana. A verdade pura e simples é que somos dois sexos diferentes. Somos atraídos um ao outro. Essa é a base da civilização. É o que faz o mundo girar. A ideia de negar o fato de que as mulheres são objetos de desejo sexual, em um sentido positivo, representa uma simples negação da realidade.
P: Qual é a diferença entre os homens jovens em 1953, na época em que a revista começou, e os homens jovens de hoje?
R: Naquela época eles eram um pouco mais sofisticados. Eles liam mais. As transformações tecnológicas mudaram os hábitos de leitura. Obter suas informações da Internet não é a mesma coisa. Houve um emburrecimento da América? É claro que sim. A Internet tem inúmeras virtudes, mas também tem seu lado negativo.
P: O sr. e a Playboy ajudaram a lançar a revolução sexual, que liberalizou nossa cultura. Na ausência da Playboy, alguma outra coisa ou pessoa teria surgido para promover a mesma transformação?
R: Penso que sim. É como qualquer outra invenção ou transformação social, etc. Acho que o fator principal que libertou as mulheres foi a pílula do controle de natalidade, que separou a procriação do sexo.
P: Em nossa cultura, hoje, parecemos ser mais liberais, com leis em favor do casamento gay e a legalização da maconha em alguns estados. Ao mesmo tempo, porém, a paisagem política parece estar mais conservadora desde as administrações Reagan e Bush. Estamos mais conservadores ou mais liberais?
R: No sentido mais amplo, estamos muito mais liberais. Mas houve uma reação contrária a aquela sociedade mais permissiva. A revolução sexual se deu plenamente em meados dos anos 1960 e ao longo dos anos 1970, e então, na década de 1980, houve uma reação contrária; politicamente, a direita religiosa ajudou Reagan a chegar à Casa Branca. A Aids chegou, e a correção política, que também influenciou a sexualidade.
P: Então a que se deve a desconexão atual entre políticos que são conservadores e o que parece estar acontecendo entre os americanos em uma sociedade mais liberal?
R: Os problemas que temos hoje com o conservadorismo não têm muita ligação com as leis. Quando eu era adolescente e jovem, a maior parte do comportamento sexual fora do casamento era ilegal. Jovens de classe média corretos e morais não podiam viver juntos nos anos 1950 antes de se casarem. Nesse sentido, portanto, é óbvio que estamos muito mais liberais. O conservadorismo se manifesta de outras maneiras. Há a correção política... Acho que uma parte do movimento feminista também influenciou o resto da sociedade com a noção de que, de alguma maneira, imagens de nudez e sexualidade constituem exploração, gerando uma atitude negativa em relação a coisas que, de outro modo, víamos como corriqueiras ou belas.
P: O sr. conheceu muitas pessoas ao longo dos anos, desde celebridades até astros dos esportes e dignitários. Muitos deles aqui na Mansão. Quem não esteve aqui que o sr. teria gostado que tivesse vindo?
R: (ri) Não faço ideia. Obama seria bem-vindo, com certeza, mas não penso nisso.
P: No documentário há cenas do sr. com Sammy Davis, Jr. O que Sammy teria dito sobre Obama?
R: Provavelmente o mesmo que estou dizendo, ou seja, que eu gostaria que ele pusesse seus planos em prática. Todos tínhamos grandes esperanças.
P: Um conselho para homens como eu. Tenho 48 anos. O que é melhor para a vida sexual do homem, Viagra ou três namoradas ao mesmo tempo?
R: (ri) Três namoradas. Porque, aos 48 anos, você não precisa de Viagra. Se bem que, com três namoradas, o Viagra ajude.
P: Para terminar, o título do documentário é "Hugh Hefner, Playboy, Activist and Rebel." Essa é uma maneira de recordar o sr., mas como o sr. mesmo gostaria de ser lembrado?
R: Gostaria de ser lembrado como alguém que exerceu algum impacto positivo na transformação dos valores sociais-sexuais de minha época. Quanto a isso, acho que tenho bastante certeza que o fiz.
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