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ENTREVISTA-Filme sobre a cachaça alegra festival argentino

Por LUCILA SIGAL
Atualização:

A bebida mais popular do Brasil chegou ao cinema pelas mãos do diretor brasileiro Pedro Urano, que retratou um país "embriagado" em "Estrada Real da Cachaça". É o único filme brasileiro na competição latino-americana do Festival de Cinema de Mar del Plata, cidade situada a 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires. "Quando falamos de cachaça, falamos também de transe, que pode ser extático, de alegria, mas também anestesiante, num país que conhece suas contradições mas nem por isso consegue superá-las", disse Urano em entrevista à Reuters. "Meu filme é sobre um país embriagado." O documentário foi filmado como um "road movie", percorrendo a chamada Estrada Real da Cachaça, um "caminho poético" que mostra diferentes zonas de produção, consumidores e rituais que vinculam a bebida ao candomblé. "Depois de fazer uma pesquisa, descobri que a presença da cachaça na cultura brasileira é muito grande, mas muito dispersa. Ela sempre está presente de alguma maneira. É quase como a bandeira americana nos filmes dos EUA", disse o diretor, rindo. "O filme é a cristalização de uma reflexão sobre a realidade, que ainda não terminou, que continua", acrescentou Urano, para quem "Estrada Real da Cachaça" é seu primeiro longa. Até agora ele tinha trabalhado principalmente como diretor de fotografia. O caminho percorre paisagens de natureza exuberante e retrata muitas pessoas bebendo, a maioria embriagadas, em povoados e cidades, enquanto bailes e canções são dedicadas à bebida. "A cachaça põe você de ponta-cabeça", canta um homem num ritual mostrado no filme. "A cachaça mantém você andando", diz uma trabalhadora rural. NOVOS PROJETOS Urano aplaudiu o bom momento que o cinema brasileiro está vivendo, mas disse que há muita produção e pouca distribuição dos filmes, em muitos casos feitos com financiamento do Estado. "O cinema brasileiro hoje está muito melhor que antes, com presença grande em festivais como Berlim, Cannes e Veneza. Nos últimos anos começam a ser feitas produções não apenas no Rio e São Paulo, mas também em outros Estados, o que é muito bom porque surgem outras idéias", disse o diretor de 29 anos. "O Brasil vive um bom momento de produção, mas não de exibição ou distribuição. Há menos de 3.000 salas de cinema em todo o país." Enquanto espera o resultado de seu filme na competição em Mar del Plata, Urano dedica-se ao seu próximo documentário, que ele começará a rodar em duas semanas e que aborda as falências na educação e na saúde, através da história de um edifício modernista do Rio de Janeiro. "O filme se chama 'O Enigma do HU' (Hospital Universitário), um prédio cuja construção começou nos anos 1950, levou 30 anos e ficou pela metade. É um documentário sobre um hospital, mas também sobre a saúde e a educação pública no Brasil, que não recebem a atenção necessária", concluiu.

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