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ENTREVISTA-Filme argentino ironiza o mundo da arte

Por LUCILA SIGAL
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Os diretores argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn apresentaram no Festival de Cinema de Mar del Plata um filme que tece uma reflexão sobre as contradições do mundo da arte contemporânea. "O Artista" conta a história de um enfermeiro (interpretado pelo músico argentino Sergio Pángaro) que trabalha numa clínica geriátrica e, ao notar o talento artístico de um paciente bastante confuso (o escritor argentino Alberto Laiseca), se faz passar por criador das pinturas do idoso. Graças à mentira, ele ganha dinheiro, abandona seu emprego antigo e se insere no circuito da arte em Buenos Aires, um mundo que obedece a suas regras próprias e que o co-diretor Gastón Duprat descreve como "escorregadio". "A arte contemporânea e todo esse mundo quase se critica sozinho. É um mundo muito frívolo, repleto de imitadores, mas também de pessoas muito sérias. Se colocássemos uma câmera para filmar uma vernissage qualquer, o resultado seria muito mais ridículo do que aquilo que mostramos no filme", disse Duprat em entrevista à Reuters. Ao lado de "Vil Romance", "O Artista" é um dos dois filmes argentinos que integram a competição oficial do único festival de cinema de primeira linha da América Latina. O filme foi rodado em dois meses e meio em Buenos Aires, Roma e no Uruguai e está previsto para estrear simultaneamente na Argentina e na Itália em março. "Procuramos não fechar a discussão de um assunto muito complexo, que envolve milhares de artistas, que vem sendo discutido há cem anos sem que se chegue a uma conclusão. O que é arte e o que não é? Queríamos incentivar perguntas sobre isso", disse o diretor. O roteiro do filme é do curador de arte Andrés Duprat, irmão de um dos diretores, que conhece bem os bastidores do mundo em que se decide quem tem condições de tornar-se artista. Os diretores, que em 2006 fizeram o documentário "Yo, Presidente" e também criaram programas de TV inovadores na Argentina, optaram por trabalhar com atores não profissionais, visando conseguir interpretações mais naturais. "Este mundo tem sua linguagem própria, sua forma de expressão, algo que é impossível ser representado por um ator. Por isso achamos melhor que os papéis fossem representados por pessoas desse mundo, que podiam dizer as coisas com alto grau de veracidade", explicou Duprat. Os idosos da clínica geriátrica, interpretados pelo artista plástico León Ferrari, o diretor da Biblioteca Nacional argentina Horacio González e o escritor Rodolfo Fogwill, são vistos aparentemente imbecilizados diante da televisão, que transmite um programa feito pelos diretores no passado. Duprat e Cohn já estão trabalhando com seu próximo filme, que se chamará "Vecino" (Vizinho) e começará a ser rodado em meados de 2009. "É um problema entre vizinhos em Buenos Aires, envolvendo uma intermediária", contou Duprat.

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