ENTREVISTA-Ancine lançará fundo para tornar cinema mais rentável

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Por FERNANDA EZABELLA
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A Agência Nacional de Cinema lança nos próximos meses o Fundo Setorial do Audiovisual, com o qual pretende buscar rentabilidade de filmes e empresas do setor, para que o cinema nacional possa caminhar com as próprias pernas. O Fundo Setorial, aprovado em lei em 2006, será implementado entre julho e agosto, com 50 milhões de reais. Irá trabalhar com linhas de financiamento e recursos reembolsáveis, e não com dinheiro a fundo perdido, característica das leis de incentivo atuais. "O que se espera é estabelecer um ciclo virtuoso", disse à Reuters por telefone o diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel. "Ou seja, auxiliar no processo para que nossos produtos persigam maior rentabilidade, uma auto-sustentabilidade." A produção do cinema brasileiro saltou de três filmes em 1992 para 29 filmes em 2003 e cerca de 80 em 2007, com ajuda das leis de incentivo fiscal, que só no ano passado ficou na ordem dos 137 milhões de reais. O público e a venda de ingressos, no entanto, não seguiram o mesmo ímpeto de crescimento. Encolheu de 22 milhões de espectadores em 2003 para 10,3 milhões em 2007, patamar que vem mantendo desde 2005. "Esses filmes (maioria dos filmes nacionais) não têm o desempenho de bilheteria que nós gostaríamos que tivessem. Mas é um fenômeno mundial", explica Rangel, justificando que no mundo todo as bilheterias de cinema caíram. Para Sérgio Sá Leitão, um dos diretores da Ancine, o problema está na superprodução do cinema nacional -- o mercado não dá conta do número excessivo de filmes produzidos. "É preciso que tanto a política pública quanto o financiamento público sejam alavancadores do desenvolvimento dessa indústria, e não simples mantenedores", disse Sérgio. "O fundo propõe um novo modelo, uma nova lógica. É menos produtor de dependência, de acomodação, que é o que temos hoje", disse. INCENTIVO FISCAL CONTINUA O cineasta Carlos Reichenbach vê a novidade com cautela, embora considere boa a idéia de uma linha de crédito para filmes não comerciais, como aconteceu nos anos 1990. "O cinema não dá lucro, é uma mentira", alerta o diretor, para quem a grande dificuldade está em levar os filmes nacionais para as salas de cinema, já que há muita concorrência das produções estrangeiras e preço caro dos ingressos. "O cinema só foi produto realmente comercial na década de 1970, quando o filme se pagava na bilheteria e o ingresso custava uma passagem de ônibus", completou o diretor de "Falsa Loura". O novo fundo vem com a promessa de regular o setor, dando apoio não só a produção mas também a todos os elos da cadeia produtiva, como exibição, distribuição e infra-estrutura de empresas. Será administrado pela Ancine e pela Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência e Tecnologia. O Fundo Setorial se assemelha aos Funcines (Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica), que estabelecem carteiras de investimento mas com um certo incentivo fiscal, e ao Procult (Programa de Apoio à Cadeia Produtiva do Audiovisual do BNDES), que financia projetos em várias frentes. Além dessa quantia, a Ancine contará ainda este ano com 150 milhões de reais através de incentivos fiscais da Lei do Audiovisual e outros 10 milhões de reais para os prêmios adicionais a filmes, exibidores e distribuidores. Por enquanto não está em debate a substituição das leis de incentivo fiscal, mas a Ancine alerta que tais mecanismos têm data de validade. Alguns artigos da Lei do Audiovisual expiram em 2010 e 2016. Para Rangel, "nós não podemos simplesmente abandonar uma experiência que o país já vive há pelo menos 15 anos", disse. "Estamos gradativamente aperfeiçoando os mecanismos de controle de gestão dos recursos incentivados, eles ainda têm um papel importante."

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