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Encerramento de Gramado agrada ao público e divide crítica

Os dois filmes apresentados na última noite do festival foram aplaudidos pelas platéias. Mas a crítica não gostou tanto assim de Corazón de Fuego e O Preço da Paz

Por Agencia Estado
Atualização:

Deu a louca no público aqui no 30º Festival do Cinema Brasileiro e Latino. Ontem à noite, o Cine Embaixador, palácio do festival, quase veio abaixo após a exibição dos últimos filmes da competição. Os longas foram particularmente aplaudidos. Fizeram grande sucesso junto à platéia, mas provocaram a divisão dos críticos. Do Uruguai, país com muita tradição de crítica - os uruguaios foram os primeiros a valorizar Ingmar Bergman nos anos 1950 - mas sem tradição de prática cinematográfica, veio Corazón de Fuego, de Diego Arsuaga. O filme conta a história de três velhinhos que seqüestram uma locomotiva de empresários só preocupados com os lucros e quer remeter aos Estados Unidos. O objetivo do trio de protagonistas é chamar a atenção do público para o que está ocorrendo no país, cada vez mais dependente do capital estrangeiro. Metaforicamente, a locomotiva pode representar o próprio cinema uruguaio, que tenta dar as caras num mercado maciçamente dominado por Hollywood. O filme trata dos conflitos entre três gerações, fazendo a ponte entre a terceira idade e a infância representada pelo menino que um dos heróis arrasta consigo na aventura. A esperança vem dessa associação, já que o empresário, símbolo de uma geração intermediária, é a expressão do novo mundo globalizado, sem raízes na cultura nacional. Toda a simpatia que o filme provoca no espectadores decorre da perfeita adequação dos atores a seus personagens. Federido Luppi, Hector Alterio e Pepe Soriano representam a nata do cinema argentino, sendo de destacar que o filme é uma co-produção entre Uruguai e Argentina. Por mais interessante que possa ser a metáfora armada pelo diretor Arsuaga, seu filme tenta combater a hegemonia de Hollywood usando justamente as armas do inimigo. Corazón de Fuego é o tipo do filme que poderia ser refeito no cinema americano, se atores como Jack Lemmon e Walther Matthau, que faziam a série dos velhos rabugentos ainda estivessem vivos. O roteiro, que teve a consultoria do Festival de Sundance, recicla várias situações tradicionais do cinemão, tentando equilibrar trama e humor para garantir a emoção dos espectadores. É o que você poderá confirmar quando a Buena Vista, que distribui o filme em toda a América Latina, colocar Corazón de Fuego nas salas brasileiras. Do Paraná veio o último concorrente brasileiro de longa metragem. O Preço da Paz, de Paulo Morelli, trata do cerco dos maragatos do gerneral Gumercindo Saraiva a Curitiba e dos esforços do Barão de Cerro Azul para manter a cidade a salvo, durante a revolução federalista. É, acima de tudo, um filme de produtor. Maurício Appel dedicou-se obsessivamente durante vários anos ao esforço de montar a produção e, depois, finalizar o produto mais ambicioso de toda a história do cinema paranaense. O filme é muito bem produzido e certas cenas, como a do ataque no desfiladeiro em Vila Velha, apresentam boa intensidade dramática. Essa cena especificamente lembra um western, mas, para dizer a verdade, se você é do tipo que gosta de bang-bangs, vai continuar preferindo os originais americanos. A questão levantada por um filme desses é que segue esteriótipos e termina oferecendo uma visão um tanto caricatural da história. Pelos aplausos que o público gramadense deu a O preço da Paz, pode ser que o filme interpretado por Lima Duarte, Erson Capri, Danton de Mello e Giulia Gam seja um êxito de bilheteria, mas com certeza não vai acrescentar grande coisa, dramaturgicamente, à história do cinema brasileiro.

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