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Emoção domina "Tempo de Recomeçar"

Enfim, um filme que não tem vergonha da emoção, com uma exemplar interpretação de Kevin Kline, mergulha fundo no potencial emotivo dos personagens e das situações em que se envolvem

Por Agencia Estado
Atualização:

Emoção tem sido uma palavra tabu no cinema americano recente. Ora é substituída pela ação em estado literalmente bruto, ora é tratada como algo repulsivo, que merece ser jogada num balde do ácido corrosivo do cinismo. Ou ainda afogada numa tina da mais doce das pieguices. Tempo de Recomeçar não tem medo de ser um filme sobre emoções e, embora não seja um grande filme, transmite sua carga emotiva de modo competente. Pegue seu lenço (bem, uns três chegam) e veja esse filme que um crítico americano caracterizou bem como tendo muito coração e cérebro insuficiente. Ele tem bons atores, um visual elegante, porém pode ser visto como se veria um telefilme daqueles que insinuam boas idéias, mas não as desenvolve de modo tão inteligente e contundente quanto seria desejável. A história é sobre um fabricante de maquetes, George (Kevin Kline), que acaba de ser demitido de uma firma de arquitetura, ato que ele responde com uma fúria demolidora digna de um Godzilla, destruindo todas as maquetes que fez.´Sua ex-mulher, Robin (Kristin Scott Thomas), não tem mais sorte, pois seu novo marido é glacialmente ausente. Há um filho de Robin e George, Sam (Hayden Christensen), rebelde furioso, cheio de piercings e chegado a uma droga pesada. Outros ingredientes da receita são Coleen (Mary Steenburgen) e sua filha Alyssa (Jena Malone). Indo e vindo há Josh, amigo de Sam e namorado de Alyssa, ajudando a construir seu orçamento promovendo encontros rápidos de Sam com fregueses executivos. Quando George descobre que tem apenas quatro meses de vida, usa sua indenização para derrubar a cabana de vista privilegiada à beira-mar (em Orange County, na Califórnia) em que vive, construir uma nova casa e conquistar o respeito do filho, tudo no seu último verão. Fora da comédia cínica - Ninguém duvida, após a apresentação dos personagens e da sua interação, que Sam irá deixar de ser um catálogo junkie e se transformar, graças ao trabalho honesto e duro, num filho amantíssimo. Robin também entra na dele e redescobre seu amor por George. E também que Sam e Alyssa vão dividir o mesmo chuveiro (na casa dela). Isso quando Coleen e Josh não estiverem, bem, usando o quarto para fechar o círculo, com a junção do cafetão adolescente e da dona de casa yuppie. Poderia virar uma comédia de costumes cínica à Beleza Americana, mas o filme não cede à tentação e teve a sorte de contar com atores como Kevin Kline e Kristin Scott Thomas. Os personagens deles ganham carne e osso mais por técnica dos intérpretes que por artes do roteiro. Fazem com que gostemos de George e Robin e que seus dramas tenham significado para quem vê o filme. Isso faz com que se desculpem bobagens que parecem ter sido incluídas só para alongar a metragem como o conflito com um vizinho chato. O curioso é que a grande cena do entendimento entre pai e filho soa meio falsa, enquanto as do envolvimento de Kline e Kristin são as melhores do filme, momentos em que o que está na tela parece nada mais nada menos que emoção real.

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