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Em 'Pelé', Hollywood descobre um ídolo nacional

Rio recebe gravações de ‘Pelé: The Birth of a Legend’, cinebiografia do jogador

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Uma seleção de futebol sem credibilidade supera os favoritos, revela ao mundo o talento brasileiro e traz para o País a primeira vitória numa Copa do Mundo. O título teve entre seus protagonistas um garoto de 17 anos, cuja destreza com os pés viria a transformá-lo no atleta nacional mais conhecido de todos os tempos. Pelé: The Birth of a Legend (o nascimento de uma lenda), produção hollywoodiana dos irmãos documentaristas Jeff e Michael Zimbalist que está sendo rodada no Rio, não é só sobre isso.

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 É sobre um garoto pobre que era mantido apartado da bola pela mãe. O tio, Francisco, e o pai, João, o Dondinho, haviam sido jogadores derrotados por sérias contusões. Dona Celeste preferia sonhar com um filho doutor. Ao notar sua habilidade com os pés, a família Arantes do Nascimento entendeu que não poderia abortar seu futuro.

A cena dessa descoberta e da transformação do franzino Dico em Pelé foi filmada num lar de idosos da Beneficência Portuguesa, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, pai e filho aos pés de uma mangueira, as mangas como bolas.

Quem faz Dondinho é Seu Jorge; o menino-gênio é dividido entre os não atores Leonardo Carvalho, de 11 anos, e Kevin de Paula, de 17. Os garotos, de famílias pobres do Grande Rio, driblaram mais de 400 candidatos brasileiros e outros tantos dos Estados Unidos, do Canadá e da África. Não falam inglês, língua do filme, mas têm a ingenuidade e a astúcia que os diretores buscavam para o personagem. “Era preciso achar o espírito do Pelé, encontrar alguém original e humilde, que tem deslumbramento nos olhos”, explicava Michael numa pausa rápida nas filmagens para o almoço.

Como Paul Kemsley, presidente do nova-iorquino Cosmos, último time de Pelé (entre 1975 e 1977), Brian Grazer (de Apollo 13 e Uma Mente Brilhante) e o iniciante peruano Ivan Orlic, o ex-jogador é um dos produtores, e fará participação ainda não divulgada.

Numa época em que as biografias são alvo de discussão, essa cinebiografia se promete intocada. “Pelé não tem o controle criativo. Não faríamos nada chapa-branca. Ele teve as suas fraquezas e isso estará no filme. Mandamos o roteiro que fizemos e não tivemos problema”, garante Jeff (diretor, com o irmão, dos documentários Favela Rising, rodado no Brasil, e Os Dois Escobares, na Colômbia). Seu Jorge afirma que, no caso de uma cinebiografia, em geral com repercussão maior do que um livro, é preciso, sim, ter a anuência do retratado. O importante, ele reforça, é falar a verdade. “Longe de mim ser um censor, mas é bom estar a par do que falam da gente. Não precisa falar bem o tempo todo, mas não pode mentir.”

Estrela do set, o ator/cantor vive um homem amável com o filho, que tem de convencer a mulher a deixar o menino seguir seu destino. “Foi ele quem viu esse dom do Pelé, sabia que ele tinha algo especial. A vitória foi uma redenção para ele e para o Brasil, que era um país acanhado, no qual ninguém depositava esperança.”

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Seu Jorge nasceu em junho de 1970, durante a última e eufórica Copa de Pelé, e só o viu jogar em VTs. “Minha mãe queria que eu fosse jogador e me levou, com poucos dias de nascido, para ver a seleção desfilar no carro dos bombeiros”, conta. Pelé acabou por se tornar a personificação do homem negro bem-sucedido, figura muito próxima das crianças de sua geração.

Para Leonardo e Kevin, Seu Jorge é uma referência mais próxima. Eles conseguiram 50 dias de folga da escola para se dedicar às gravações, realizadas em áreas rurais do estado do Rio, que remetam às cidades de sua infância e adolescência, Bauru e Santos. “Nunca imaginei ser o Pelé no cinema. Agora quero ser ator e jogador de futebol”, dizia, faceiro, Leonardo, xodó da equipe.

Kevin já é jogador há dois anos – é volante do Tigres, time da segunda divisão do futebol carioca. Foi descoberto numa pesquisa de locação para o filme. Um produtor fotografou um jogo em que ele estava e os diretores foram direto nele. “No teste, fiz embaixadinha e tive que decorar umas falas em inglês. Estou trabalhando muito com a preparadora de elenco. É uma responsabilidade imensa fazer um rei. Com o dinheiro que ganho aqui, estou ajudando a reformar a casa da minha mãe, que está desempregada.”

As gravações começaram dia 30 de setembro. Pelé ainda não foi ao set nem deu entrevistas sobre o filme, que tem Matthew Libatique (de Cisne Negro) como diretor de fotografia, Rodrigo Santoro no elenco e está previsto para estrear às vésperas da Copa de 2014.

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