Em "Mar em Fúria", o que vale é o mar

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Por Agencia Estado
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Não espere nada além do que diz o título: Mar em Fúria. E é exatamente isso - o mar enfurecido - que vale a pena neste novo filme do alemão Wolfgang Petersen, o mesmo de Na Linha de Fogo, estrelado por George Clooney e Mark Wahlberg, o galã de Boogie Nights. Baseado na história real do barco pesqueiro Andrea Gail, que zarpou numa manhã de outubro de 1991 da cidade de Gloucester, em Massachussetts, para nunca mais voltar, o roteiro vai por caminhos óbvios e apela para o sentimentalismo do público da maneira mais fácil: transformar os tripulantes em bravos heróis, que abandonam seus amores em terra firme. Se o roteiro não ajuda, pelo menos a direção e os atores não atrapalham. Petersen segura firme a câmera e, assim, percebemos com facilidade quem caiu na água, quem mergulhou para salvá-lo, onde o erro foi cometido, quando e quem o fez. Estes detalhes poderiam se perder no meio de tanta água e efeitos, mas a decupagem precisa do alemão nos permite uma visão bem clara dos acontecimentos. Clooney e Wahlberg - que repetem a boa química do subestimado Três Reis - não podem fazer muito com os diálogos melodramáticos do roteiro, mas, mesmo assim, convencem nos respectivos papéis do corajoso Capitão Billy Tyne e do jovem promissor Bobby Shaford. Mas este não é um filme de autor, nem de ator. No momento em que a água salgada começa a se agitar e a bater violentamente no barco, esquecemos os diálogos sem sal e torcemos para que as poltronas no cinema sejam flutuantes. O mar toma conta do filme, joga os atores para todos os lados e invade cada centímetro do fotograma. E quando os créditos começam a subir, vemos que quem está por trás da tempestade perfeita do título original é a Industrial Light & Magic, a empresa de George Lucas que recriou os dinossauros, deu vida à Forrest Gump e inventou o universo de Guerra nas Estrelas, onde naves pegam fogo no vácuo. Como ninguém sabe se o que aconteceu na embarcação, a ILM teve liberdade de fazer o que quis com o pequeno barco perdido no meio do Oceano Atlântico - e é isso que faz valer o preço do ingresso. Se em Twister, o desastre natural era utilizado de forma engraçada, carregando vacas e aproximando amantes, a tempestade aqui vai para o lado oposto. O mar destrói o Andrea Gail e maltrata os tripulantes. A todo instante sentimos que suas vidas estão por um fio. Os efeitos são realmente perfeitos. Somente um Amir Klink para, quem sabe, enxergar defeitos no mar enfurecido da tela. O problema é passar pelos momentos sofríveis (tanto para os personagens quanto para o público), do início e do final do filme.

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