Em Locarno, o melhor do jovem cinema brasileiro

A nova safra da produção autoral do País vai à Suíça participar da 62º edição de festival

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Por Flavia Guerra
Atualização:

Uma retrospectiva do ‘Cine Mangá’, uma homenagem ao cinema chinês, algumas pré-estreias mundiais de filmes já prontos para chegar às salas comerciais e muitas apostas na produção de autor. Sem contar cinco filmes brasileiros na seleção oficial, dos quais um longa-metragem na competição principal. Este é o quadro geral do 62º Festival de Cinema de Locarno, que começará na quinta-feira, 6, e segue até o dia 15, na cidade do sul da Suíça.

 

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Em meio ao saturado circuito de festivais internacionais, é de se perguntar por que ainda ir e prestar atenção em Locarno. Porque, entre uma sessão e outra, é o festival que, em meio à saturação de filmes de apelo comercial demais, ainda mantém seu foco dirigido para os jovens autores e para os que, se não mais tão jovens, continuam deixando sua assinatura particular em um circuito que, mais que o caixa no fim do dia, preza pela busca de novas formas de se contar uma boa história.

 

Ainda que reserve suas sessões da Piazza Grande, em que 9 mil pessoas assistem diariamente a filmes exibidos numa imensa tela de cinema ao ar livre, a produções mais comerciais, Locarno ainda aprecia a experimentação e aproximação real, e rara, entre o público comum e os realizadores. Se eles trouxerem propostas inovadoras, então, melhor ainda. É aí que entram os representantes brasileiros desta edição do festival. Entre dois documentários, curtas-metragens de ficção e um longa, a nova geração do cinema de ponta brasileiro marca presença em Locarno mais uma vez.

 

A lista inclui títulos que já no nome dizem a que vêm: A Fuga, a Raiva, a Dança, a Bunda, a Boca, a Calma, a Vida da Mulher Gorila, de Felipe Bragança e Marina Meliande, integra a competição oficial de curtas. Mira, de Gregorio Graziosi, está na seção Leopardos de Amanhã. Na arrojada seção Aqui e Além, Notas Flanantes, da mineira Clarissa Campolina faz sua estreia internacional, e Terras, de Maya Da-Rin, a mundial.

 

"Como integrante do comitê de seleção, posso dizer que esta edição tem ótimos representantes nacionais. Se no ano passado os documentários eram maioria, neste foram os curtas que mostraram sua qualidade. O Brasil tem tido participação significativa nos grandes festivais de cinema do mundo e em Locarno não está sendo diferente", comenta Paulo Carvalho, correspondente para a América Latina da mostra.

 

Se as cinco produções são os expoentes do novo cinema brasileiro, Os Famosos e os Duendes da Morte, produção da Dezenove Som e Imagens e da Warner Bros, é certamente o grande destaque da nova safra. Primeiro longa do jovem Esmir Filho, o filme revela, em sua parceria, cuja produção tem a assinatura de Sara Silveira, que cinema de autor e apelo comercial podem andar de mãos dadas. O Brasil não competia em Locarno desde 2000, quando Dois Córregos (cuja produção também era de Sara Silveira), de Carlos Reichenbach, concorreu ao Pardo (a ‘Palma’ de Locarno). Aliás, vale lembrar que a última vez em que um filme nacional levou o Pardo para casa foi nos anos 60, quando Glauber Rocha venceu com seu Terra em Transe.

 

Para quem o nome de Esmir ainda não chama a atenção, basta lembrar que ele já integrou mostras competitivas em Cannes, com curtas como Saliva. Mas o que não pode deixar de ser mencionado é que ele foi um dos realizadores do fenômeno da internet chamado Tapa na Pantera. Visto por milhões de internautas, o curta-metragem, que começou como uma brincadeira, acabou revelando o quão poderosa é a tal da rede mundial de computadores quando o assunto é o público jovem.

 

De olho na sua geração e na que nasceu com a internet, Esmir trata exatamente do mistério que é crescer em um mundo em que o virtual e o real já não têm mais fronteiras definidas. Os Famosos..., mais do que contar uma história jovem para um público jovem, retrata como é enfrentar o rito de passagem da adolescência para a fase adulta em tempos em que fotologs, blogs, flickrs e outras ‘ferramentas’ virtuais substituem o ‘caro diário’ e até mesmo a relação real.

 

"O filme é baseado no livro homônimo de Ismael Caneppele e conta a história de um garoto que mora no sul ‘alemão’ do Brasil. Em meio às fantasias, medos e sonhos da adolescência, ele vive dividido entre sua vida real no interior e a virtual que constrói na internet. "É uma honra lançar meu primeiro longa em um festival importante como esse que é dedicado ao autor e tem como proposta apresentar um novo olhar dentro do cinema contemporâneo", comemora o diretor.

 

Interessante é observar que Esmir usa do próprio veneno virtual para promover seu filme. Enquanto Os Famosos... não chega aos cinemas, o que deve ocorrer em novembro, vídeos realizados pelos atores/personagens do filme são postados na internet. "É uma forma de construir este universo. Já que está tudo interligado, tudo dialoga de uma forma virtual que se torna real. E vice-versa. Assistir aos vídeos é também uma forma de conhecer os personagens antes mesmo de ver o filme", conta o diretor.

 

Quem quiser conferir, pode acessar a página JJingleJangle no YouTube.

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