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Em diferentes filmes, a dupla de ‘Crepúsculo’ enfrenta o confinamento

Robert Pattinson, Kristen Stewart e o risco de viver no mar em 'O Farol' e 'Ameaça Profunda'

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É mera coincidência, mas a dupla romântica da série Crepúsculo, formada por Robert Pattinson e Kristen Stewart, pode ser vista esta semana em diferentes filmes em cartaz nos cinemas de São Paulo (e do Brasil). Vale destacar que ambos, após o sucesso comercial, seguiram a via mais difícil. Pattinson tem privilegiado o cinema autoral, Kristen, também. Ocorre que, nesta semana em especial, ele prossegue nessa via com o ambicioso O Farol e ela tenta algo novo – a ação com elementos de fantástico – em Ameaça Profunda. Em comum, ambos os filmes possuem a presença do mar como elemento dramático. 

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O Farol, de Robert Eggers, cravou uma indicação no Oscar, a de melhor fotografia para Jarin Blaschke. É um trabalho monocromático impressionante, o que o filme tem de melhor. 

O diretor e seu fotógrafo não apenas criaram uma espécie de textura da imagem como adotaram o formato quadrado, que remonta ao cinema mudo, para contar a história de dois homens num farol. 

Pattinson faz o novato, Willem Dafoe, o veterano. O clima é fantástico, embora o diretor, em sucessivas entrevistas, resista a classificar seu filme como horror, decerto para não ficar preso ao gênero que lhe deu visibilidade com A Bruxa, de 2015. Dafoe e Pattinson – os personagens chamam-se Thomas e Ephraim –, ilhados pelo mar revolto, transformam a solidão num exercício de agressão verbal e física.

Por se tratar de uma relação de dominação – mas quem domina quem? –, o filme não deixa de se inscrever nessa moderna vertente do fantástico com comentário social (nos filmes de Ari Aster e Jordan Peele). 

Numa cena, Dafoe diz a Pattinson que pode ser uma invenção, um produto criado pela imaginação do outro. Será tudo imaginação? Para reforçar, o roteiro cria cenas de ataques de aves selvagens e até o sexo com uma sereia. O que é real? São chaves para quem quiser entrar no universo criado por Eggers. No filme, ressoam ecos de Stanley Kubrick, O Iluminado, e Joseph Conrad, Lord Jim. O problema é que, por mais elaborado e brilhante que seja o visual, falta humanidade para que o resultado seja algo mais que um vago exercício de estilo.

Ameaça Profunda também parte de uma experiência de confinamento, mas agora não é mais uma dupla. Há um grupo heterogêneo. De cara, e já nos créditos, os personagens descem ao fundo do mar, a 11 mil pés. Só isso já seria suficiente para confrontar Kristen Stewart, Vincent Cassel e os demais com seus demônios internos, mas o diretor William Eubank ainda providencia uma ameaça externa, algum monstro marinho de origem desconhecida. 

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'Ameaça Profunda'. Kristen como Nora: após explosão de laboratório subaquático, ela e sua equipe lutam para sobreviver Foto: Fox Film do Brasil

Kristen tem sido tão exigente com seus papéis que é de se perguntar o que viu nessa Nora, com um nome tão emblemático. A pista – Nora define-se como um copo meio vazio. Talvez tenha sido isso, a falta de desejo. Como uma figura dessas vai reagir na hora em que só a visceral vontade de viver poderá salvá-la? Como se enche o copo de novo?

O laboratório submarino constitui um décor e tanto, e é no mínimo intrigante que, de repente, tantos filmes recorram ao mar – Star Wars: Episódio IX, Kursk, O Farol (de certa forma) e Ameaça Profunda. Nesse caso em especial, não deixa de haver um flerte do diretor Eubank com o James Cameron de O Segredo do Abismo, que era um ‘cenas de um casamento’, na vertente de Ingmar Bergman, atravessado, à maneira de Steven Spielberg, por um encontro do terceiro grau. 

Quando a estação explode, o plano B, insano, é caminhar pelo fundo até outro possível refúgio seguro. No clássico disaster movie O Destino do Poseidon, de Ronald Neame, os passageiros do navio emborcado tentavam a subida interior para que o diretor refletisse sobre o conceito cristão da assunção. Aqui, o disaster movie vira filme de monstro – Alien? –, porque, afinal, Nora e os amigos sobreviventes não estão sozinhos no fundo do mar. Sem maiores ambições, Ameaça Profunda termina divertindo – um divertimento angustiante, como o ar que se esgota.

Veja os trailers:

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