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"É Tudo Verdade" começa no Rio

O festival de documentários começa nesta quinta-feira no Rio de Janeiro. Entre os destaques, uma retrospectiva de Orson Welles

Por Agencia Estado
Atualização:

Furacões têm sempre nomes femininos o que pode ser creditado a uma cultura machista, que identifica na mulher - e nas paixões que provoca - um elemento desestabilizador da ordem do mundo. Houve um furacão masculino que assolou os EUA nos anos 30. Tinha nome e sobrenome. Orson Welles nasceu em Kenosha, no Wisconsin, em 1915. Tinha 19 anos quando montou em Nova York um Macbeth só com atores negros e 23 quando acirrou a paranóia norte-americana simulando, num programa de rádio da CBS que fez sensação e até hoje intriga críticos e historiadores, a invasão da Terra pelos marcianos, numa livre adaptação de A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells. Com 25, revolucionou o cinema fazendo o filme que lançou aos 26 e permanece, até hoje, como o bê-a-bá da linguagem: Cidadão Kane. O Festival Internacional de Documentário É Tudo Verdade começa nesta quinta-feira, no Rio. O festival comemora os 60 anos da vinda de Welles ao Brasil. Na sessão inaugural, somente para convidados, no Centro Cultural Banco do Brasil, serão exibidos Reflexão 2001 (2002), de Jan Troell; Volta ao Mundo com Orson Welles - Episódio Tourada em Madri (1955), de Orson Welles, e De agora em Diante (2002), de Juan Van der Keuken. A parte paulistana terá início na segunda-feira, no Cinesesc, com a exibição, também para convidados, de Reflexão 2001 e de Berlim: Sinfonia de uma Metrópole (2002), de Thomas Schadt. Orson Welles veio ao Brasil em 1942, no quadro da política de boa vizinhança com que o então presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, tentava garantir a participação do governo brasileiro na guerra contra o Eixo. Welles veio e fez um filme mítico que ficou inacabado. It´s All True virou obsessão do diretor brasileiro Rogério Sganzerla. Deu nome ao Festival Internacional de Documentários que o crítico e jornalista Amir Labaki organiza para a Associação Cultural Kinoforum. O 7.º É Tudo Verdade desembarca na segunda em São Paulo. Programe-se para não perder a Retrospectiva Internacional momento importante do evento que, este ano, homenageia justamente o grande Welles. Serão oito títulos, incluindo dois documentários assinados pelo próprio diretor. A Volta ao Mundo com Orson Welles é uma série de documentários que ele fez em 1955 para a TV britânica. Verdades e Mentiras é de 1975. O festival exibe também a versão finalizada de É Tudo Verdade, o documentário Orson Welles no País de Dom Quixote, produção espanhola de 2000 dirigida por Carlos Rodriguez, O Caso Dominici por Welles, outro documentário, esse francês, de Christophe Cognet e também de 2000, sobre o improvável encontro entre o cineasta e o célebre criminoso Gaston Dominici, mais três filmes de Sganzerla: Nem Tudo É Verdade, A Linguagem de Orson Welles e Tudo É Brasil. Welles foi um gigante do cinema, mas ainda há críticos que insistem na tese, que não se sustenta, de que ele nada mais fez de notável após Cidadão Kane. Sua carreira posterior seria feita de tentativas interessantes, algumas até brilhantes, mas Welles nunca mais teria concretizado outra obra-prima. Isso sim não é verdade; uma das tantas provas possíveis é Verdades e Mentiras, cujo título fornece uma súmula de preocupações que sempre obcecaram o autor. E o curioso é que a série A Volta ao Mundo com Orson Welles, contemporânea da superprodução de Michael Todd baseada em Jules Verne e dirigida por Michael Anderson (A Volta ao Mundo em 80 Dias), será lançada em DVD, em maio, pela Continental com o bônus de um curta do diretor. Welles trafega por Paris, Londres, Madri, pelo País Basco e por Viena. Em Paris, filma Juliette Gréco e Jean Cocteau. Welles, um renascentista, homenageia Cocteau, outro renascentista, um artista único e múltiplo. Dois gênios em mútua admiração.

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