PUBLICIDADE

E tudo começou com 'Os Sete Samurais', de Akira Kurosawa

Akira Kurosawa bebeu na fonte do cinema de ação de Hollywood como na da grande literatura russa

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Mestre do paradoxo e do movimento, Akira Kurosawa bebeu na fonte do cinema de ação de Hollywood como na da grande literatura russa. Em 1950, fez um filme desprezado pela crítica do Japão, Rashomon, mas que o consagrou em todo o mundo, ao ganhar o Leão de Ouro em Veneza. Era o ano de 1950, o cinema japonês virou sensação no Ocidente. Dois anos depois, Kurosawa fez Os Sete Samurais, e aí, sim, o sucesso foi gigantesco.

Um filme de samurais com pegada de western. Camponeses contratam sete mercenários para defendê-los do bando selvagem que quer se apropriar de suas colheitas. Momento antológico – a batalha de sabres na chuva. E, numa cena poética, a reflexão do mestre – os camponeses ligam-se à terra, têm raízes nela; os samurais são como o vento que sopra (e passa). Dessa vez, o Leão foi de Prata em Veneza. Os críticos japoneses, batendo na tecla de que Kurosawa fazia um cinema ocidentalizado, definiram Sete Homens Um Destino como um western. Hollywood acreditou e John Sturges fez o remake norte-americano, transpondo a ação para o Velho Oeste – e a fronteira mexicana.

PUBLICIDADE

Yul Brynner, careca que se tornara conhecido – e até ganhara o Oscar, em 1957, pelo musical O Rei e Eu –, saca da pistola e forma um bando para enfrentar os vilões que ameaçam cidadezinha. Sturges, já considerado um grande do western, convocou atores jovens – Steve McQueen, James Coburn, Charles Bronson, Horst Buchholz, etc., mas o que fez a diferença foi o fato de ele contratar Elmer Bernstein para a trilha, pensando, com o compositor, musicalmente as sequências. Bernstein era cria de Aaron Copland. Criou uma suíte e fragmentos sonoros para individualizar os sete homens. Há controvérsia, mas pode muito bem ser que a não apenas a violência do filme de Sturges, mas também sua musicalidade, tenham reverberado na Itália. Nesse caso, Sturges, e não Sergio Corbucci, ou Leone, seria o criador do spaghetti western.

Sete Homens virou série, teve um monte de sequências nos anos 1960. Depois, como o próprio western, ficou para trás, antes que Antoine Fuqua propusesse a nova versão e reinventasse o gênero. Nas pegadas de Sturges, em 1964, Martin Ritt baseou-se em Rashomon e a história, transposta para o Oeste, virou Quatro Confissões, com Paul Newman. No mesmo ano, na Europa, Leone baseou-se em outro Kurosawa, Yojimbo, e nasceu Por Um Punhado de Dólares, com Clint Eastwood. O resto é história.