Naquela tarde de entrevistas, em Los Angeles, onde vive atualmente, o diretor Duncan Jones, filho do ícone da música David Bowie, foi tirado da sua rotina de “trocar fraldas”, ofício principal dele nos últimos meses, desde o nascimento da segunda filha, para voltar suas atenções ao filme Mudo, que há pouco estreou no serviço de TV por streaming Netflix.
No longa, Jones volta a trabalhar dentro do gênero da ficção científica, no qual habitou, muito bem, em Moon: O Outro Lado da Lua, filme de 2009, no qual estreou como diretor e roteirista. Com esse trabalho, Jones foi laureado pelo Bafta, o “Oscar inglês”, como o melhor diretor principiante.
Foi o que garantiu deixar o cinema independente e partir para o cinemão de Warcraft, a adaptação do sucesso dos games que fracassou em crítica e público – provavelmente, por não conseguir encontrar uma linearidade entre tantos pontos de vistas, já que, no jogo, pode-se escolher comandar orcs ou humanos em batalha.
Jones admite ser viciado em ficção científica (passe pelo seu Twitter e Instagram e veja por si, mesmo). O apreço pelo gênero literário e cinematográfico foi ensinado a ele – prepare-se para as lágrimas – pelo pai, outro que gostava de mergulhar por essas realidades e futuros alternativos e, normalmente, tortos.
Com Mudo, Jones está em seu hábitat, distante das politicagens dos grandes estúdios e num mesmo universo ficcional de Moon. No papo a seguir, o diretor fala sobre Hollywood, paternidade e sobre dirigir um protagonista mudo, interpretado pelo galã Alexander Skarsgård.
Bom Dia, Mr. Jones, como tem sido esse dia de entrevistas? Nada mal. É divertido. Atualmente, minha principal função era de trocar fraldas (risos).
Muito bem. Vamos falar de Mudo, então, que você dirige e assina o roteiro com o Michael Robert Johnson. Sim. Aliás, eu e Michael cursamos a escola de cinema juntos. E fizemos o primeiro esboço desse filme há 16 anos.
Mas o futuro imaginado 16 anos atrás deve ser bastante diferente do que imaginamos agora. Em 2002 não existia iPhone. Exatamente. Mudamos o roteiro muitas e muitas vezes. Quando começamos, a história se passaria em Londres. Estávamos inspirados naqueles filmes de gângster britânicos lançados na época. Uma das mudanças é que agora, o filme se passa em Berlin.
E por que decidiu lançar o filme na Netflix e não no cinema? Acho que era o único jeito a ser feito. Sempre soube que esse era um trabalho para um público bastante específico. Não é um filme da Marvel ou um Star Wars. E os grandes estúdios agora estão em busca de franquias, grandes estreias em bilheteria nos fins de semana. Mas existem esses filmes feitos com US$ 20 milhões, US$ 30 milhões, que não tinham mais espaço. Lugares como Netflix, Amazon e Apple estão aí para isso.
Foi bom voltar aos filmes de orçamentos moderados? Em Mudo, eu tive o “corte final” do filme. A Netflix assina pelo filme, pelo artista. Nos grandes estúdios, a gente precisa viver a politicagem. Mas eu sabia que seria assim.
Mudo e Moon estão no mesmo ‘universo cinematográfico?’ Acho que, principalmente, são filmes que dialogam com a ideia de como as pessoas reagem a momentos de desespero.
E como chegou a Skarsgård? Eu precisava de alguém fisicamente grande, que desse medo, de alguém talentoso para construir isso sem diálogo.