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Dráuzio e Babenco, em dupla

Hector Babenco volta a uma prisão pela quarta vez, para preparar filmagens de Carandiru, baseado no livro de Dráuzio Varela. Cineasta diz que sua compaixão o levou a fazer três filmes passados no cárcere

Por Agencia Estado
Atualização:

O ambiente carcerário não traz novidades para Hector Babenco que, com Carandiru, realiza seu quarto filme cujo tema é a prisão - antes, dirigiu Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia, Pixote e O Beijo da Mulher Aranha. O cineasta não encontra explicações por tratar de assuntos marginais. "Talvez seja minha compaixão pelo semelhante, principalmente por aqueles confinados nos presídios", arrisca uma justificativa. Lúcio Flávio (1978) representou seu batismo brasileiro, pois, argentino de nascimento, sentiu-se obrigado a se naturalizar para tratar de assuntos proibidos em uma época de censura rígida: política, o bandido Lúcio Flávio Vilar Lírio (interpretado por Reginaldo Farias), esquadrão da morte. O filme foi um sucesso e ainda figura entre as maiores bilheterias do cinema brasileiro. Três anos depois, realizou Pixote, considerada sua melhor e mais pungente obra. A idéia de rodar um filme sobre a violência entre menores abandonados surgiu quando Babenco acompanhou um amigo, que faria uma série de fotografias na Febem do Tatuapé. O estado físico e mental dos meninos sensibilizou-o a ponto de abandonar o projeto que vinha estudando (um filme que se chamaria Shirley). Fernando Ramos da Silva foi o protagonista. Um garoto que foge do reformatório e segue uma trilha violenta. Na cena mais famosa, Pixote aninha-se nos braços da prostituta interpretada por Marília Pêra, recriando a imagem emblemática da Pietà, de Michelangelo. Ele suga o peito da prostituta até que se instala o mal-estar e ela o joga para fora do leito. Silva seguiu o rastro infeliz de seu personagem e, dez anos depois, foi morto pela polícia, em Diadema. Premiação - Pixote causou impacto também no exterior, principalmente nos Estados Unidos, onde recebeu elogios do crítico Vincent Canby, do jornal The New York Times. Foi eleito o melhor filme estrangeiro de 1981 pela Associação de Críticos de Nova York e Los Angeles. Já Marília Pêra foi a atriz do ano pela Sociedade Nacional de Críticos. Pixote só não concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro porque Babenco desconhecia o prazo de inscrição. Cansado do reduzido retorno financeiro que a consagração proporcionava, o diretor decidiu filmar em inglês. Escolheu O Beijo da Mulher Aranha, livro do argentino Manuel Puig, e, depois de uma desgastante luta por investimentos, conseguiu lançar o filme, em 1984, estrelado por William Hurt (vencedor do Oscar de melhor ator), Raul Júlia e Sônia Braga. "Descobrimos o Presídio do Hipódromo, que ainda não estava desativado, e fomos os primeiros a utilizar aquele espaço como locação", conta o cineasta. Apesar de totalmente concentrado na produção de Carandiru, Babenco já estuda qual deverá ser seu filme seguinte: a versão de Gente Independente, do islandês Halldór Laxness (1902-1998), vencedor do prêmio Nobel de literatura de 1955. Ruth Prawer Jhabvala, fiel colaboradora de James Ivory, já prepara o roteiro, que trata da história de um criador de ovelhas, Bjatur, abandonado por duas esposas em sua luta por uma independência financeira, pagando com oito anos de trabalho o direito de adquirir terras devolutas do Estado.

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