"Dona Flor" volta em cópia mais longa e apimentada

Maior sucesso da história do cinema nacional, filme baseado na obra de Jorge Amado volta ao circuito comercial em novembro com dez minutos a mais, censurados à época de seu lançamento, em 1976

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Por Agencia Estado
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Luiz Carlos Barreto atribui aos orixás e a Jorge Amado o maior êxito de seus 40 anos de carreira como produtor de cinema. Em 1976, dois cinemas - um na Bahia e outro em São Paulo - exibiram pela primeira vez Dona Flor e Seus Dois Maridos, 15º livro do escritor baiano, com 800 mil cópias vendidas. O filme foi produzido por Barreto e dirigido por seu filho Bruno. Começava ali um sucesso que levou 12 milhões de pessoas às salas de cinema apenas no Brasil, rendeu a maior bilheteria da história do cinema brasileiro e foi exibido em cerca de 80 países. Em setembro, o que inicialmente seria uma comemoração das quatro décadas da produtora de Barreto (LC Barreto) vai se transformar também em uma homenagem a Jorge Amado, morto na semana passada. Uma nova cópia do filme será uma das maiores atrações do FestRio (Festival do Rio BR), que começa no dia 27 de setembro. Haverá, em data ainda não confirmada, uma exibição na Praia de Copacabana. Dez minutos - proibidos pela censura na época da estréia - foram acrescentados à nova versão. Segundo Luiz Carlos Barreto, são cenas de Vadinho (José Wilker) e Dona Flor (Sônia Braga) nus na cama. Cerca de 70 novas cópias entrarão em circuito comercial em todo o País a partir de novembro. A história da adaptação do romance para as telas começou no final da década de 60 durante um jantar no qual estavam reunidos Barreto, Gláuber Rocha e Jorge Amado, em Paris. "O Gláuber propôs ao Jorge transformar Dona Flor em um musical. Jorge aceitou, mas logo o Gláuber pulou fora dizendo não ter competência para filmar aquele gênero", diz Luiz Carlos Barreto ao JT. Em 1974, Barreto voltou a negociar com Jorge Amado os direitos de adaptação - já havia desistido de realizar um musical - e convidou Cacá Diegues para a direção. O cineasta recusou, assim como Joaquim Pedro de Andrade e Anselmo Duarte. Sugeriu ao filho Bruno, de 21 anos, que digisse. "O Bruno, um jovem muito pretensioso, aceitou mas impôs como condição filmar com duas câmeras. Na época, no Brasil, ninguém filmava assim". Barreto topou e foi atrás dos recursos. O orçamento era US$ 650 mil, numa época cujas produções nacionais custavam em média menos da metade disso. O produtor foi atrás de Walter Clark - responsável pela divisão de cinemas da Rede Globo naquele tempo - e apresentou a proposta. Clark procurou Roberto Marinho, que não a autorizou, alegando que a emissora havia acabado de colocar a novela Gabriela no ar. Barreto se endividou para levantar a verba para a produção. Um mês depois da estréia, Roberto Marinho chamou Clark a sua sala e disse: "Parabéns, Walter, por ter me desobedecido e financiado o filme". Clark respondeu: "Eu não o desobedeci, doutor Roberto". Barreto conta rindo a história, mas lembra os momentos de ansiedade que rechearam a produção. Durante as filmagens em Salvador - que duraram dois meses -, vários problemas surgiram. Na cena em que o corpo de Vadinho está sendo velado no Largo da Pólvora, um curto circuito provocou o início de um incêndio. Um figurante baiano perguntou ao produtor se ele havia pedido autorização para filmar a história aos orixás. No dia seguinte, Jorge Amado levou parte da equipe para um terreiro de candomblé. "Depois que os orixás foram consultados tudo passou a correr bem", conta Barreto. Amado era presença constante no set. Segundo o ator Mauro Mendonça - que viveu o farmacêutico Teodoro, segundo marido de Dona Flor -, o elenco várias vezes era convidado para almoçar na casa do Rio Vermelho, residência do escritor e Zélia Gattai. Após a estréia do filme, Barreto treinou uma equipe para fiscalizar a bilheteria nos cinemas. Alegava ter sido vítima de evasão de receita. Disse ter flagrado, ao lado da mulher, um porteiro acumular ingressos na mão e colocá-los no bolso, em um cinema de Santo André. A bilheteria de Dona Flor superou a do o blockbuster Tubarão, de Steven Spielberg. Na Argentina, levou cinco milhões de espectadores às salas. Nos Estados Unidos, faturou US$ 6 milhões e foi o responsável pelo lançamento de Sônia Braga no mercado americano.

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