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"Dois Destinos" é exibido em SP

Dois Destinos talvez seja a obra-prima de Valerio Zurlini. O grande diretor italiano que morreu há 20 anos, em 1982, nunca foi uma unanimidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Existe um problema, digamos, moral, se você não é fumante. A sessão é patrocinada por Marlboro e o cigarro, você sabe, faz mal à saúde. O filme que você ainda pode ver no Unibanco Arteplex, em São Paulo, é, de qualquer maneira, extraordinário. Dois Destinos é uma das obras-primas e talvez seja a obra-prima de Valerio Zurlini. O grande diretor italiano que morreu há 20 anos, em 1982, nunca foi uma unanimidade. A crítica francesa, para citar só um exemplo, deplorava a pastosidade dos sentimentos justamente de Dois Destinos, que se chama Cronaca Familiare, no original. Convém não dar excessiva atenção aos críticos. Muitos deles vão falar mal de O Senhor dos Anéis - As Duas Torres, a admirável adaptação do livro de John Ronald Reuel Tolkien, você vai ver. Quando morreu, Zurlini tentava resolver o problema que o obcecava, nos últimos anos de vida. Não conseguiu resolvê-lo. Queria fazer um filme sobre os sentimentos, no qual eles não sofressem nenhum tipo de condicionamento histórico e social. Ele sabia que isso era difícil, até por ter sido educado na escola de Tolstoi, que dizia que uma história privada cresce e se torna extraordinária se tiver algum tipo de evento histórico que lhe sirva de fundo. Esse confronto entre o público e o privado virou a mola mestra dos grandes épicos de David Lean. Zurlini sonhava com o filme puro, só sobre sentimentos. Em filmes como Verão Violento e Dois Destinos não deixou de inscrever suas análises dos sentimentos em quadros históricos precisos. Dois Destinos é mais alusivo. Existem alusões, não mais do que isso, ao momento histórico italiano, os anos precedentes e os que se seguiram à 2ª Guerra Mundial. É neste período que se desenrola a história de dois irmãos, interpretados por Marcello Mastroianni e Jacques Perrin. Separados na infância, trilham caminhos diversos. Um quer ser escritor. Torna-se um sobrevivente (e o narrador da história). Outro é vítima da própria fragilidade física e emocional. É uma relação ambivalente, feita de amor e ódio. Zurlini um católico comunista, admitia que carregava um desespero que o aniquilava. O personagem de Mastroianni é um poço de culpa, em relação ao irmão, à avó, criada pela lendária Silvie. O diretor gostaria que Dois Destinos tivesse sido seu primeiro filme. Amava o romance de Vasco Pratolini, mas, com o consentimento do autor, teve de se afastar muitas vezes dele, para ser fiel. Ele usa a cor de uma maneira magistral. Azuis, cinzas e ocres, que fazem lembrar a pintura de Giorgio Morandi, não está lá com nenhum propósito caligráfico. Expressam a intensidade dos sentimentos. Serviço - Dois Destinos. Dir. de Valério Zurlini. Às 21h30, no Unibanco Arteplex 5. Rua Frei Caneca, 569, em são Paulo, no Frei Caneca Shopping. Patrocínio: Phillip Morris.

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