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Dois anos depois, 'Pluft' estreia mantendo a magia e com cenas gravadas debaixo d'água

Diretora preferiu adiar o lançamento do filme durante a pandemia por conta de efeitos pensados para as grandes telas

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Todo lançamento é sempre a mesma coisa. Rosane Svartman conta que vem a ansiedade, o friozinho na barriga. Pode ser novela – Totalmente Demais – ou filme – Como Ser Solteiro, Tainá, A Origem. Como autora, roteirista e diretora, ela quer sempre chegar ao coração do público. Mas, desta vez, é especial. Pluft, o Fantasminha! A peça de Maria Clara Machado virou obra de referência do teatro e da literatura infantis brasileira. Rosane iniciou o projeto bem antes da pandemia. Teve uma ideia que parecia maluca. Fazer o filme em 3-D, debaixo d’água. Como? 

Nicolas Cruz é o protagonista do filme'Pluft, o Fantasminha' Foto: Globo Filmes

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Sofia Coppola teve a mesma ideia em Hollywood, quando foi sondada para transformar a animação A Pequena Sereia em live-action. Foi dissuadida pelos executivos do estúdio – seria impossível, arriscado. No Brasil, e apoiada por sua parceira na Raccord, a produtora Clélia Bessa, Rosane conseguiu. Está curiosa para saber como o filme dela vai repercutir na Disney. 

A questão dos efeitos é essencial em Pluft. Afinal, ele é um fantasminha. Vive com a mãe e o tio dorminhoco na casa em ruínas do avô pirata, na beira da praia. “A história é de iniciação, de passagem. Pluft tem medo dos humanos, mas a chegada de Maribel muda a vida dele. Respeito à diferença, amizade, afeto. É uma história muito bonita e, principalmente, necessária nesse mundo em que predominam os discursos de ódio.” 

Bastidores da filmagem do filme 'Pluft, o Fantasminha', na Escola Superior de Bombeiros de Franco da Rocha. Na foto, tirada em 20 de julho de 2017, a atriz Fabiula Nascimento Foto: Rafael Arbex/Estadão

O filme deveria ter estreado há dois anos, nas férias de julho de 2020, mas a pandemia de covid-19 fechou tudo, decretou o isolamento. “Fiz o filme pensando na tela grande do cinema, cheio de efeitos, para que a criançada pudesse mergulhar no universo fantástico e maravilhoso de Maria Clara (Machado). Não só elas. Os adultos que as levam ao cinema. O filme talvez perdesse sua mágica na tela pequena, no streaming. Só tenho de agradecer à Downtown, à Paris Filmes, que compreenderam isso e me apoiaram, segurando o filme.” Pluft, finalmente, estreia nesta quinta, 21. 

Grande elenco

Atores conhecidos, e queridos do público estão no elenco – Fabíula Nascimento, Juliano Cazarré. Os estreantes Nicolas Cruz (que veio dos musicais) e Lola Belli interpretam o fantasminha e Maribel, respectivamente. Artur Aguiar é um dos amigos de Maribel. Ainda nem sonhava com o BBB

Muita gente ainda está reticente quanto a ir aos cinemas. Embora as salas obedeçam aos protocolos de segurança, parte do público teme o contágio. Criou-se o mito de que só os jovens vão ao cinema, e para ver as produções da Marvel. Não é verdade. O Festival de Cannes organizou, em maio, um seminário para discutir a questão da frequência na pandemia, que ainda não terminou. Mundialmente, os adultos – cinéfilos? – vão mais que os jovens. Peguem suas crianças, e vão. Usando máscara, claro.

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Elenco filmou debaixo d'água

Houve outro Pluft, o Fantasminha, há 60 anos. A peça de Maria Clara Machado foi escrita em 1955 e Romain Lesage fez o filme possível em 1962, com Agildo Ribeiro, o palhaço Arrelia, Cláudio Cavalcanti e Dirce Migliaccio. Rosane Svartman, que nunca esqueceu o Pluft que viu no teatro, passou a sonhar. E se ela levasse o fantasminha de Maria Clara para a tela grande?  “Começou como sonho e virou obsessão.” Programado para estrear em julho de 2020, o filme esteve pronto nesses dois anos. Pronto? “Aproveitamos esse tempo para aprimorar algumas coisas. Nenhum filme fica pronto. A gente desapega, mas sempre pensa que pode dar um toque aqui, ali.” Pluft, o Fantasminha chega às salas nesta quinta, 21. A reportagem do Estadão visitou o set, na época das gravações. Um piscinão no Rio e outro em São Paulo. O que piscina tem a ver com fantasmas? Rosane teve a ideia que parecia maluca: “Fiz vários testes para ver como apresentar o fantasma na tela, desde os mais tradicionais, em que o fantasma é acoplado à imagem meio transparente. Não gostei”, conta. Foi aí que começou o “...E se?” Rosane começou a pensar em movimentos dentro d’água. Fez um teste, outro. Dentro d’ água era possível dar aos fantasmas o tipo de movimento que ela imaginava, como se estivessem soltos no espaço, voando. Surgiu a solução – filmar numa piscina, e eliminar a água na pós-produção. 

Claro que havia problemas. Fabíula Nascimento, atriz até debaixo d’água, topou o desafio, idem Nicolas Cruz (Pluft), escolhido num casting que teve muitos – muitos! – candidatos. Passaram por rigoroso check-up e, depois, treinamento. No set havia sempre bombeiros, ambulância, médico. Aprenderam a segurar a respiração debaixo d’água, a produzir movimentos labiais como se estivessem falando. E tudo tinha de obedecer a uma norma fundamental – nada de bolhas. “Eu uso um gorro no filme e, às vezes, a cena estava perfeita, só que o gorro mexia e saía uma bolha”, lembra Nicolas Cruz, que faz o Pluft. O mais difícil, ele conta, “era manter o Pluft na horizontal debaixo d’água, mas era necessário.” 

Cena de 'Pluft, o Fantasminha', com os marinheiros Sebastião (Arthur Aguiar), João (Lucas Salles) e Juliano (Hugo Germano) e o Pluft (Nicolas Cruz) Foto: Globo Filmes

O filme todo não foi feito na piscina. Havia as cenas de Maribel, do Pirata da Perna de Pau, da taverna dos piratas. Rosane filmava tudo, muitas vezes com fundos verdes e azuis, para juntar os pedaços na pós-produção. Não era só eliminar a água?  Lola Belli diz que “embora Pluft e Maribel estejam quase sempre juntos, a gente filmava separadamente”. Ela cita a cena em que Nicolas, como Pluft, a levanta na palma da mão. “Eu estava suspensa por um fio no meio do nada. Tive medo, mas tinha de disfarçar. Havia uma marcação. Olha nessa direção, mexe com a mão, fala.” Nicolas era um menininho, tinha 10/11 anos. O filme demorou tanto (5, 6 anos) que ele espichou. 

Filmagens do longa 'Pluft, o Fantasminha', de Rosane Svartman Foto: Marina Masson

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Brincadeira

A interpretação foi outro desafio. Com as crianças, Rosane adotou a regra “Vamos brincar de...”. Crianças, em suas brincadeiras, são fingidoras. Viram princesas, jedis, e por que não um fantasminha e sua amiga? Juliano Cazarré entrou na brincadeira. “Sempre quis fazer um pirata.”  Numa cena, na praia, ele pergunta a Maribel se aquela é a casa do avô. Ela não responde. “Ele fala grosso, como pirata malvado. ‘É a casa?’ e ela fica intimidada.” No intervalo entre a filmagem e o lançamento de Pluft, ocorreram duas novelas de sucesso na vida de Juliano. Amor de Mãe e, agora, Pantanal. “A gente acreditava que a novela ia fazer sucesso, mas virou um fenômeno.” Juliano faz o casca-grossa Alcides. “Estou com 41 anos, sinto-me no auge, já pedi ao escalador de elenco da Globo que me arranje outra novela na sequência.” 

Cazarré tem recebido o carinho do público pelo drama que vive na realidade. Sua filha nasceu em junho, com uma doença rara. Fabíula Nascimento teve gêmeos nesse intervalo. Fala com o Estadão com um dos bebês no colo. Veio dela a ideia de fazer da mãe uma bailarina. Afinal, o pai de Pluft era artista.  A expectativa é alta. O público vai comparecer? Em casa, Rosane Svartman teve aprovação de 100%. Seus filhos adoraram, mas são suspeitos (e crescidos). Uma coisa é certa. A experiência com Tainá, A Origem, no terceiro filme da série, foi decisiva para seu envolvimento no cinema infantil. Para o futuro, sonha com mais Maria Clara Machado – quer adaptar O Cavalinho Azul, que já foi filme de Eduardo Escorel, em 1984.

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