Documentaristas fazem história no Oscar

Ataques ao presidente americano marcaram a cerimônia. O Michael Moore da noite foi o documentarista Errol Morris, diretor de um filme sobre o Vietnã

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Por Agencia Estado
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O épico que Peter Jackson adaptou do livro cult de J.R.R. Tolkien passou como um rolo compressor pelos demais concorrentes. Ganhou também em direção de arte, figurinos, efeitos especiais, maquiagem, edição de som, trilha sonora e canção. E os documentaristas estão fazendo história no Oscar. No ano passado, Michael Moore, de Tiros em Columbine, fez do palco do Kodak Theatre uma tribuna contra o presidente George W. Bush. Este ano, outro vencedor do Oscar de documentário de longa-metragem, Errol Morris, usou o discurso de agradecimento do prêmio que recebeu por Sob a Névoa da Guerra, sobre Robert McNamara, para dizer que nos anos 1960, quando seu entrevistado era o secretário de Defesa, os EUA entraram numa toca no Vietnã que causou milhares de mortes. ?Tenho medo de que estejamos entrando em outra toca?, disse Morris, acrescentando que gostaria que seu filme ajudasse o público a pensar na gravidade do momento atual. Foi a melhor abertura do Oscar em muitos anos. O apresentador Billy Crystal, sentado no meio do público numa sala de cinema, colocou um anel e foi projetado dentro da tela (e da série O Senhor dos Anéis). A partir daí, rolaram, vertiginosamente, efeitos dos mais divertidos, incluindo Billy Crystal travestido de Gollum ou então fazendo a observação mais original da noite. Ele lembrou que apresentou seu primeiro Oscar há 13 anos e naquele ano o mundo era muito diferente do atual ? havia um George Bush na presidência dos EUA, a economia americana passava por sobressaltos e o país acabara de sair de uma guerra. Justamente a guerra ? sobre as imagens de combate de O Retorno do Rei, apareceu Michael Moore aos berros, dizendo que aquela era uma guerra de mentira, para ser esmagado pela patada de um daqueles elefantes mastodônticos que viviam na Terra-média. Bom humor ? Até para esquecer a tensão que marcou a entrega de prêmios do ano passado, em, plena Guerra do Iraque, o presidente da Academia de Hollywood, o diretor e roteirista Frank Pierson, anunciou que a festa deste ano seria leve e bem humorada. Foi humorada, mas não exatamente leve. O próprio Pierson usou seu discurso para homenagear um astro que também presidiu a Academia, Gregory Peck ? lembrando que ele se destacou pela decência e dignidade, não tendo sido por acaso que o advogado que interpretou em O Sol É para Todos, quando ganhou seu Oscar, foi considerado o maior herói americano de todos os tempos, numa enquete promovida pelo American Film Institute. Atticus Finch (nome do personagem) era um campeão dos direitos dos negros, numa época em que o debate sobre a integração racial dividia a sociedade dos EUA. O Oscar deste ano consagrou o favoritismo. Houve poucas surpresas. O primeiro prêmio, o de melhor ator coadjuvante, já foi para um favorito ? o Tim Robbins de Sobre Meninos e Lobos. O de animação foi para outro favorito ? Procurando Nemo, de John Lasseter. O de melhor atriz coadjuvante foi para aquela que dominava as bolsas de apostas. Renée Zellweger, premiada por Cold Mountain. E o de melhor atriz veio coroar a transformação física de Charlize Theron em Monster. Isto para não falar do triunfo excepcional de O Senhor dos Anéis ? O Retorno do Rei. Para equilibrar a alfinetada de Billy Crystal no presidente George W. Bush, um dos maiores ícones de Hollywood, na atualidade, Tom Hanks, encarnou um momento rápido de patriotada, homenageado o lendário Bob Hope ? que durante décadas fez aqueles shows para divertir as tropas americanas no exterior, nas muitas guerras em que os EUA se envolveram no século passado. Curiosamente, o Oscar distribuído a seguir, na categoria de curta de ficção dramática foi Two Soldiers ? um filme dos EUA, adaptado de William Faulkner, sobre um rapaz irmão que vai para guerra e o irmão vai atrás. E quando todo mundo esperava Julie Andrews, foi Jim Carrey ? careca ? quem subiu ao palco para entregar o Oscar especial de carreira a um rei da comédia, Blake Edwards. O veterano cineasta de 81 anos mostrou que continua em forma e poderia ser um ator tão bons como os comediantes que dirigiu na tela. Edwards simulou um problema no pé para justificar a cadeira de rodas na qual estava sentado ? e que disparou no palco, num efeito divertidíssimo, para que ele arrancasse a estatueta das mãos de Carrey e sumisse nos bastidores, como se tivesse se rebentado lá dentro, no melhor estilo cartum.

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