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Documentário obrigatório extréia sexta

Sensibilizada pelo massacre da população da ilha, Lucélia Santos dirigiu o documentário Timor Lorosae - O Massacre Que o Mundo não Viu, que estréia nesta sexta-feira

Por Agencia Estado
Atualização:

Lucélia Santos tem rodado o Brasil mostrando seu documentário sobre o Timor. Chama-se Timor Lorosae. Tem como subtítulo O Massacre Que o Mundo não Viu. O filme foi exibido no Festival do Rio BR 2000, concorreu no Recife, em Varginha e promoveu uma discussão muito interessante em Porto Alegre, durante a realização do Fórum Mundial. No exterior, recebeu o prêmio Lusofonia no Cine-Eco 2001, em Portugal. Agora mesmo, Timor Lorosae integra a mostra competitiva do CineCeará. Estréia na sexta, dia 28, em São Paulo e no Rio. Você poderá eventualmente fazer objeções a Timor Lorosae. O documentário de Lucélia é daqueles que põe ênfase na palavra para reforçar o que o espectador já viu. Discuta Timor Lorosae. Você estará no seu direito. Mais do que isso: estará contribuindo para o que Lucélia se propõe. Acima de tudo, não deixe de ver esse filme. Em outro documentário que estréia na sexta-feira - Janela da Alma, de João Jardim, co-direção de Walter Carvalho -, o escritor José Saramago, falando sobre problemas de visão, diz que a pior cegueira é a indiferença que hoje em dia acomete pessoas e nações em todo o mundo. Os muitos ricos são insensíveis aos problemas dos pobres. A miséria e a exclusão social viram problemas de mercado. Lucélia talvez estivesse pensando na indiferença a que se refere Saramago quando fez Timor Lorosae. De volta ao seu subtítulo, O Massacre Que o Mundo não Viu talvez devesse ser Que o Mundo não Quis Ver. Lucélia Santos virou um mito da TV brasileira quando fez A Escrava Isaura. A novela escrita por Gilberto Braga ainda é a mais vendida no exterior. Em países da África, da Europa, da América Latina - na China, o maior país do mundo -, Lucélia é identificada como aquela personagem. Identificada e querida. A escrava Isaura foi integrada ao imaginário de espectadores das mais diferentes culturas. Atriz de teatro, cinema e TV, Lucélia poderia, quem sabe, ter cedido à cegueira denunciada por Saramago. Optou por não ser indiferente. Ligou-se a causas sociais e ecológicas. Virou uma guerrilheira do verde, batalhando, por exemplo, pela preservação da Amazônia. E, então, em 1995, Lucélia tomou conhecimento, pela primeira vez, da barbárie que estava ocorrendo no Timor. Foi durante a visita do embaixador timorense José Ramos Horta ao Brasil. No ano seguinte, quando o bispo Ximenes Belo e ele receberam o Prêmio Nobel da Paz, Lucélia foi a Oslo, como convidada de ambos, para assistir à cerimônia. Foi lá que surgiu a idéia da realização de um documentário sobre o Timor. O projeto só foi concretizado em 2000, com a ajuda do então governador de São Paulo, Mário Covas (a quem o filme é dedicado). Timor é aquela ilhazinha localizada entre a Austrália e a Indonésia. Foi colonizada pelos portugueses. Em 1974, no bojo das transformações que a Revolução dos Cravos levou às antigas colônias de Portugal, Timor começou a lutar por sua independência. A ilha foi invadida pela Indonésia, a maior nação muçulmana do mundo. Quase um terço da sua população foi massacrada. Em 1999, três anos após a entrega do Prêmio Nobel da Paz aos militantes da causa timorense, o país foi barbaramente queimado. No ano seguinte, armada de sua câmera, Lucélia chegou ao Timor com uma pequena equipe para documentar a tragédia. A sonhada independência do Timor foi formalizada este ano. Foi um projeto familiar. Lucélia trabalhou com o filho, Pedro Henrique Neschling, que foi seu assistente de direção e co-assina o roteiro. Fizeram um filme que você pode discutir mas não ignorar, sob pena de ceder à cegueira da indiferença e perpetuar o massacre que o mundo não quis ver.

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