Documentário leva revolta no Egito ao festival de Veneza

'Tahrir 2011' mescla imagens dos protestos da população, da repressão por parte da polícia e dos discursos do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak

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Por SILVIA ALOISI
Atualização:

VENEZA (Reuters) - A insurreição de 18 dias que derrubou o presidente Hosni Mubarak está no centro de Tahrir 2011, um documentário cujo nome remete à praça do Cairo que se tornou o ponto de encontro para os manifestantes e que estreia no festival de cinema de Veneza. O filme é dividido em três capítulos - O Bom, O Mau e o Político --, cada um deles dirigido por um realizador diferente e enfocando, respectivamente, os manifestantes, as forças policiais e Mubarak. As três seções mesclam imagens reais dos protestos, da repressão promovida pelo temido aparato de segurança e dos discursos de Mubarak diante da revolta crescente com entrevistas com ativistas, oficiais da polícia, assessores de Mubarak e analistas políticos. "É um filme colagem que oferece três pontos de vista diferentes sobre os mesmos acontecimentos", disse Tamer Ezzat --que, assim como os outros dois co-diretores egípcios, filmou os protestos ao mesmo tempo em que participa deles-- a jornalistas em Veneza. "A mensagem que tento passar é de que a revolução ainda está acontecendo. A renúncia de Mubarak marcou um ponto de virada, mas não podemos dizer que isso é quando a história acaba." Amr Salama, que dirigiu o capítulo sobre Mubarak, de 83 anos, disse que foi uma tentativa séria e ao mesmo tempo satírica de "entrar no cérebro" do líder deposto. O trecho inclui um guia com 10 passos de como se tornar um ditador, que inclui desde pintar o cabelo, criar falsos inimigos a até cultivar o culto à personalidade. Entre os entrevistados está o médico Hossam Badrawi, um dos conselheiros mais próximos de Mubarak nos dias finais de seu governo que conta como tentou em vão abrir os olhos do ex-presidente. "Mubarak estava em negação total, é quase como se ele estivesse observando e testemunhando uma outra coisa e não o que acontecia nas ruas", afirmou Salama, falando em inglês. "Depois de 30 anos ele não é o líder que ele pensava ser. Eu estava interessado em retratar a imagem horrível de um ditador e ao mesmo tempo o acontecimento dramático da queda dele e da auto-revelação de que não era um líder, mas um ditador e que o povo de seu país o odeia."

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